30 janeiro 2009

Interpretando a Bíblia

Aqui na Internet, muita gente diz que a Bíblia é um monte de histórias da Carochinha, que é tudo mentira etc. Eu também não acredito em algumas de suas histórias, mas isso não quer dizer que tenham sido escritas de má fé. Prefiro acreditar que tenham sido escritas (ao menos em parte) por gente sincera.

Considere que, naquele tempo, o conhecimento científico era muito incipiente e carente de método. O mundo era grande fonte de assombro; em tudo se via a mão sobrenatural, divina ou otherwise. Além disso, nós, humanos, temos o vício de não narrarmos os fatos objetivamente, mas transmitindo já a nossa própria visão deles, eivada de sentimentos e julgamentos.

Considere, também, o episódio de I Crônicas 13 em que a Arca da Aliança estava sendo transportada em um carro de bois. Um dos bois tropeçou, a Arca quase caiu do carro, e o garoto hebreu Uzá, que vinha caminhando ao lado, estendeu a mão para evitar que ela caísse. Dizia a regra divina que era proibido tocar na Arca. Diz a narração que o pobre Uzá foi imediatamente fulminado por um raio.

Considere, ainda, que a Arca era revestida de ouro e que ela e o carro de bois eram feitos de madeira. Considere, finalmente, que, por décadas e séculos, ninguém tocara na Arca diretamente: só nas varas de madeira com que era transportada.

A madeira é um isolante elétrico. É concebível que, com o roçar das varas e carros durante tanto tempo, a superfície da Arca tenha acumulado um bocado de carga eletrostática. Um dia, o camponês Uzá, certamente descalço sobre o chão do deserto, toca a Arca com seus dedinhos -- e fecha o circuito de aterramento. A descarga flui imediatamente por seu corpo, causando parada cardíaca. Como ninguém sabe fazer ressuscitação cardiorrespiratória, Uzá morre. É claro, isso é só uma hipótese. Não sei quanta carga o revestimento de ouro sustenta sem romper o dielétrico.

Outra explicação plausível para mim é um pouco mais elaborada e exige que o boi não tenha tropeçado tanto quanto ficado inquieto. Considere que uma Arca, sendo transportada pelo deserto, projeta-se uns dois metros acima do chão, destacando-se na paisagem. Suponha que estivesse ameaçando chuva (o que é raro mas acontece). Com o acúmulo de eletricidade estática no ar, forma-se um pouco de ozônio, cujo cheiro os sensíveis animais logo percebem (até nós: é o “cheiro de terra molhada” de antes da tempestade). O boi fica inquieto, a Arca quase cai, Uzá estende a mão e, com isso, conecta a Arca à terra. A Arca atua como um pára-raio, rompe o dielétrico (ainda mais porque está carregada há anos) e um raio realmente cai em cima do garoto.

É claro, isso são apenas hipóteses. Não tenho como testá-las, mas os Mythbusters têm. Nem sou tão bom em Eletricidade, cujo ramo da Engenharia era minha última opção ao fim do curso básico (acabei indo para a mecânica, que era a primeira).

Se eu não for apedrejado por causa dessa mensagem, pretendo vir aqui outro dia e reinterpretar a idade de Matusalém e o Sol parado de Josué. Uma dica: calendários.

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Recém-lidas:
Robbie, conto de Isaac Asimov;
The Flash #155 (setembro de 1965);
Wonder Woman #163 (julho de 1966), primeira história;
The Flash #165 (novembro de 1966);
The Flash #179 (maio de 1968);
Wonder Woman #178 (setembro-outubro de 1968 -- até agora, a história mais influenciada pela Contracultura dos anos 60);
Justice League of America #77 (dezembro de 1969);
Green Lantern #74 (janeiro de 1970)
... e, com isso, acabei a Era de Prata. A qualidade das histórias já está melhorando.

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