A conversa narrada abaixo é verdadeira, aconteceu em 12/02/2007. Substituí todos os nomes por expressões entre colchetes.
-- É da [operadora de celular]. Você atende?
Sempre atendo quando é de lá. Porque podem estar querendo me comunicar que, na percepção deles, haja alguma irregularidade, que eu esteja devendo (embora não esteja), que a fatura vá atrasar neste mês etc. Se houver mesmo um soluço desses, não quero ficar sem saber; depois eles sempre poderiam alegar, em juízo, que haviam me avisado ou tentado me avisar. É preciso tirar-lhes essa vantagem. Então, atendo sempre.
-- Boa táride, Sr [censurado]?
-- Sou eu.
-- Sr [censurado], aqui é [Fulano], da [operadora], tudo bem?
-- E aí, beleza?
-- Tudo bem. Sr [censurado], eu icitou ligândo puriquê o Sr foi icicolhido como nosso cliente preferencial
Acho que TODOS os clientes deles são “escolhidos como clientes preferenciais”. Na hipótese mais exclusiva, devem ser, no mínimo, todos os que pagam em dia. Mas acho que são todos todos mesmo.
... como nosso cliente preferencial para pariticipar do [operadora] Clube [bandeira de cartão de crédito], onde o Sr, Sr [censurado], utilizando o caritâo, o Sr acumula pontos, podendo torocar esses pontos pôri telefones celulares da [operadora] ou pôri pacotes de minutos.
Tenho certeza de que é mentira. Sempre é mentira. Quando eu fosse resgatar esses pontos, eles viriam com as letrinhas pequenas, dizendo que meu contrato não permite, ou que não nessas condições, ou que só se tivesse usado tantos minutos excedentes, ou só se não tivesse usado nenhum minuto excedente, ou que eu tinha que me cadastrar antes, ou que eu tinha que solicitar antes, ou que teria um débito a mais na fatura... Mesmo que não, os pacotes de minutos também têm sempre um catch: diriam que a legislação mudou, ou que meu plano não permite, ou que meu limite não cobre, ou que meu plano é antigo, ou que meu plano é novo, ou que eu tenho um mês para usar um milhão de minutos, ou que perderia os minutos de crédito que já tenho... Se estão tendo que me ligar para me oferecer qualquer coisa, é porque é ruim para mim e bom para eles. Se fosse bom para mim, escondiam.
... ou pôri pacotes de minutos. O Sr continuaresidindo norio de Janeiro?
Repare que o moço não perguntou se eu queria ou não aceitar a promoção. Presumiu que sim e já estava preenchendo o formulário. Eu é que tinha que dizer que não queria e, se não estivesse atento às sutilezas da conversa, já estaria concordando! Pode isso?
-- Continuo, mas não quero.
-- E isso seria puriquê o Sr já tem outro caritâo?
Eu ia até dar uma desculpa qualquer para não ter que ficar entrando em detalhes sobre minha vida, que é minha e privada e ele não tem nada com ela. Foi só no meio da resposta a seguir que me dei conta: eu NÃO TENHO que dar satisfações da minha vida, minhas razões são minhas e minhas apenas.
-- Não, seria porque... Peraí!
Esse “peraí” foi para mim mesmo, não para ele.
... Peraí! Eu não tenho que dizer por que não quero. Eu não quero.
-- Mas, Sr [censurado], seria para eu fazer um comparativo.
-- Considere feito. Se alguém lhe perguntar, pode dizer que fez.
-- Mas, no caso
Já reparou como essas pessoas adoram dizer “no caso”? Eu já estou de saco cheio de quem diz “no caso”. É óbvio que é no caso! Ele está falando deste meu caso, não de outro! Essa expressão está sobrando!
-- Mas, no caso, eu nâo fice.
-- Pois então diga que não. Mas não precisa fazer comparativo.
Ficou meio segundo em silêncio do outro lado.
-- A [operadora] agradece a gentileza e deseja ao Sr uma boa táride.
-- Boa tarde.
04 março 2007
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