Rapaz, como é bom este negócio (eu disse "negócio"?) da diversidade religiosa no Brasil. Vão na Constituição, lá perto do artigo 150, VI, b.
Só que alguns vão com muita sede ao pote. Esta aqui, do saite do STJ, é ótima.
Fundadores da Igreja Renascer têm liminar negada no STJ
Reparem nos itens da acusação do MP. "As empresas ligadas à Fundação Renascer (...) sendo muitas de fachada ou fictícias", "houve visível crescimento patrimonial das pessoas ligadas à Igreja, mesmo com as dívidas comprovadamente acumuladas", "as empresas, por seus donos, mesmo deficitárias, financiavam campanhas políticas".
Ahoy.
Mais engraçado é que o habeas corpus foi pedido contra um indiciamento que teria sido ordenado por um juiz... Só que, pela notícia, tal ordem nunca teria sido dada! Então, o pedido era pra se eliminar uma ameaça à liberdade que, na verdade, não existia, é isso? Você pensa que a ministra mandou soltar acusados que estavam presos ou coisa assim, mas, quando vai ler a notícia, vê que, na verdade, não existe nem a ameaça de serem presos -- pelo menos não a ameaça que o advogado deles alega existir.
Bizarro.
10 outubro 2006
09 outubro 2006
Coréia do Norte protesta contra pressão do Ocidente
Pyongyang (Apê) -- Em um vídeo recém-divulgado pela Internet, o imperador da Coréia do Norte, Kim Jong-Il, acusa os países ocidentais de pressioná-lo para revelar os segredos da série de televisão Lost.
No vídeo, o monarca confessa que as filmagens ocorrem em uma localização não revelada no interior do país, onde o último episódio da segunda temporada causou tremores de terra que atingiram 4.2 graus na escala Richter. Kim relata que, nos últimos meses, vários líderes do Ocidente vêm exigindo saber detalhes sobre o Projeto Dharma, bem como respostas aos enigmas do seriado. Devido às insistências, o Exército da Salvação da República Popular da Coréia do Norte teria sido forçado a antecipar o final da série de tevê, apertando o botão antes de se completarem 108 minutos.
O vídeo termina com uma ameaça: Kim Jong-Il avisa que, se os países ocidentais continuarem a insistir que ele revele os segredos de Lost, o soberano será forçado a escalar o ator Rodrigo Santoro para a próxima temporada. Essa escalada está provocando manifestações de embaixadores e presidentes de várias nações, que a consideram "uma provocação desnecessária e abusiva".

Especialistas afirmam que o vídeo é autêntico. De acordo com eles, o sumo sacerdote norte-coreano seria o mesmo homem que deixou as instruções encontradas pelos passageiros isolados na ilha, em uma instalação subterrânea igual aos vários postos situados na fronteira entre as duas Coréias.
Novas informações sobre a crise diplomática a qualquer momento em nosso plantão.
No vídeo, o monarca confessa que as filmagens ocorrem em uma localização não revelada no interior do país, onde o último episódio da segunda temporada causou tremores de terra que atingiram 4.2 graus na escala Richter. Kim relata que, nos últimos meses, vários líderes do Ocidente vêm exigindo saber detalhes sobre o Projeto Dharma, bem como respostas aos enigmas do seriado. Devido às insistências, o Exército da Salvação da República Popular da Coréia do Norte teria sido forçado a antecipar o final da série de tevê, apertando o botão antes de se completarem 108 minutos.
O vídeo termina com uma ameaça: Kim Jong-Il avisa que, se os países ocidentais continuarem a insistir que ele revele os segredos de Lost, o soberano será forçado a escalar o ator Rodrigo Santoro para a próxima temporada. Essa escalada está provocando manifestações de embaixadores e presidentes de várias nações, que a consideram "uma provocação desnecessária e abusiva".

Especialistas afirmam que o vídeo é autêntico. De acordo com eles, o sumo sacerdote norte-coreano seria o mesmo homem que deixou as instruções encontradas pelos passageiros isolados na ilha, em uma instalação subterrânea igual aos vários postos situados na fronteira entre as duas Coréias.
Novas informações sobre a crise diplomática a qualquer momento em nosso plantão.
Coréia do Norte não estava blefando
Pyongyang (Royters) -- A Coréia do Norte cumpriu sua ameaça de conduzir testes de peido apesar de oposição da comunidade internacional. Esta manhã, às 10:36 pelo horário local, técnicos do Ministério para o Estudo de Desordens Digestivas ativaram um peido de baixa potência nas entranhas do país, conforme relatado por fontes locais.
"Eu senti um leve tremor. Depois continuei ordenhando as vacas, mas vi que só saía manteiga", contou Am Chok Ing, um fazendeiro local. "Aí, o céu ficou marrom e eu senti um cheiro esquisito no ar."
Um porta-voz do regime nega as acusações. "O heróico povo norte-coreano não tem comida suficiente nem para semear campos minados, muito menos um ataque dessa magnitude."
"Tudo estava coberto por um véu de segredo, mas agora podemos todos ver que eles cumpriram o ditado: 'disse que ia fazer e fez'", declarou o secretário-geral da ONU, Cough-i Annan.
Até agora, o Departamento de Defesa americano não conseguiu confirmar nem negar se o peido foi exercido sobre a farofa. De acordo com especialistas, extrapola-se que farofa radioativa possa dispersar-se sob o sopro da explosão. São previstos ventos de até 340 km/h capazes de contaminar o ar e o solo em um raio de 500 milhas, causando mortandade dos peixes, que são a principal dieta das populações chinesa e japonesa, e, com isso, renovando o efeito do ataque. O temor de que a Coréia do Norte efetivamente esteja fabricando outras armas de destruição em massa pode estimular uma escalada armamentista na região: outros países já estão aumentando seus estoques de repolho, batata-doce e outras armas químicas.
O presidente da Associação Asiática de Comedores de Feijão, Cheez Cutter, resume o sentimento generalizado: "se as estimativas se concretizarem, os norte-coreanos podem se preparar para uma retaliação à altura".
"Eu senti um leve tremor. Depois continuei ordenhando as vacas, mas vi que só saía manteiga", contou Am Chok Ing, um fazendeiro local. "Aí, o céu ficou marrom e eu senti um cheiro esquisito no ar."
Um porta-voz do regime nega as acusações. "O heróico povo norte-coreano não tem comida suficiente nem para semear campos minados, muito menos um ataque dessa magnitude."
"Tudo estava coberto por um véu de segredo, mas agora podemos todos ver que eles cumpriram o ditado: 'disse que ia fazer e fez'", declarou o secretário-geral da ONU, Cough-i Annan.
Até agora, o Departamento de Defesa americano não conseguiu confirmar nem negar se o peido foi exercido sobre a farofa. De acordo com especialistas, extrapola-se que farofa radioativa possa dispersar-se sob o sopro da explosão. São previstos ventos de até 340 km/h capazes de contaminar o ar e o solo em um raio de 500 milhas, causando mortandade dos peixes, que são a principal dieta das populações chinesa e japonesa, e, com isso, renovando o efeito do ataque. O temor de que a Coréia do Norte efetivamente esteja fabricando outras armas de destruição em massa pode estimular uma escalada armamentista na região: outros países já estão aumentando seus estoques de repolho, batata-doce e outras armas químicas.
O presidente da Associação Asiática de Comedores de Feijão, Cheez Cutter, resume o sentimento generalizado: "se as estimativas se concretizarem, os norte-coreanos podem se preparar para uma retaliação à altura".
Mais vôo 1907, ou, ninguém sabe a hora de parar
1. Então, o Comandante da Força diz que enviar a caixa-preta para o Canadá é garantia de imparcialidade porque "o Canadá é território neutro": não sendo Estados Unidos nem Brasil, será isento na perícia.
Olá-ááá??? Tem alguém em casa? Pense, McFly, pense! ONDE FICA A BOMBARDIER, ARQUI-INIMIGA do Supersafo e DA EMBRAER? O Canadá pode ser, sim, imparcial na abertura da caixa de Pandora, mas o fato de ele não ser Brasil nem EUA não é motivo para ser assim considerado implicitamente. Não posso pressupor que a Bombardier vá macular a perícia (isso seria teoria da conspiração *demais*), mas a afirmação tem que ser demonstrada, não podendo ser aceita pelo valor de face.
Sem falar que o Canadá é, sim, um dos 53 Estados Unidos.
2. Agora, a imprensa diz que um dos cadáveres tinha um plano de vôo, documento todo destruído que também vai a perícia e que pode ser o plano de vôo do avião da Gol. Corrijam-me os especialistas (os verdadeiros, por favor, não esses) se eu estiver errado, mas plano de vôo não é um documento secreto que você leva consigo (e que é inútil se o avião cair, p.ex., no oceano), mas um que você faz registrar perante as autoridades antes de sair do chão. Querem realmente saber o que dizia o plano de vôo da Gol? Ué, é fácil: procurem o aeroporto de onde ele saiu, consultem os diários... Ou não?
Há pessoas na imprensa que adoram jogar areia no olho da gente.
Olá-ááá??? Tem alguém em casa? Pense, McFly, pense! ONDE FICA A BOMBARDIER, ARQUI-INIMIGA do Supersafo e DA EMBRAER? O Canadá pode ser, sim, imparcial na abertura da caixa de Pandora, mas o fato de ele não ser Brasil nem EUA não é motivo para ser assim considerado implicitamente. Não posso pressupor que a Bombardier vá macular a perícia (isso seria teoria da conspiração *demais*), mas a afirmação tem que ser demonstrada, não podendo ser aceita pelo valor de face.
Sem falar que o Canadá é, sim, um dos 53 Estados Unidos.
2. Agora, a imprensa diz que um dos cadáveres tinha um plano de vôo, documento todo destruído que também vai a perícia e que pode ser o plano de vôo do avião da Gol. Corrijam-me os especialistas (os verdadeiros, por favor, não esses) se eu estiver errado, mas plano de vôo não é um documento secreto que você leva consigo (e que é inútil se o avião cair, p.ex., no oceano), mas um que você faz registrar perante as autoridades antes de sair do chão. Querem realmente saber o que dizia o plano de vôo da Gol? Ué, é fácil: procurem o aeroporto de onde ele saiu, consultem os diários... Ou não?
Há pessoas na imprensa que adoram jogar areia no olho da gente.
Para nerds
Por definição, nerds gostam de Física. Existe uma velha piada que adoro repetir: "um buraco negro é o que acontece quando Deus divide por zero".
Alguém levou a piada adiante: http://desciclo.pedia.ws/wiki/Buraco_negro
Alguém levou a piada adiante: http://desciclo.pedia.ws/wiki/Buraco_negro
Grande fonte de zoação ele é, hrmmm?
Esta eu tenho que dividir com vocês:
http://uncyclopedia.org/wiki/Unquotable:Yoda
"Lucrative source of quotes this Yoda is, hrmm? Easily parodied by simple rearrangements of common sentence constructions, his sayings are.
And what of this Yoda that we hear much about, young padawan? Appeared in the Star Wars films, he did. Based on Albert Einstein, apparently he was. Sounds much more like Fozzie Bear from the Muppets, he does however."
"A Jedi shall not know anger, nor fear, nor love. A bunch of grumpy old men, the Jedi are."
"An apprentice, you are. A Master, you are not. Green skin and long pointy ears, a Master must have."
"Pain, suffering, death I feel. Something terrible has happened. To the bathroom I must hurry."
http://uncyclopedia.org/wiki/Unquotable:Yoda
"Lucrative source of quotes this Yoda is, hrmm? Easily parodied by simple rearrangements of common sentence constructions, his sayings are.
And what of this Yoda that we hear much about, young padawan? Appeared in the Star Wars films, he did. Based on Albert Einstein, apparently he was. Sounds much more like Fozzie Bear from the Muppets, he does however."
"A Jedi shall not know anger, nor fear, nor love. A bunch of grumpy old men, the Jedi are."
"An apprentice, you are. A Master, you are not. Green skin and long pointy ears, a Master must have."
"Pain, suffering, death I feel. Something terrible has happened. To the bathroom I must hurry."
08 outubro 2006
Colegas de trabalho e de escola sabem quanto prezo minha privacidade. Então, poderá parecer incongruente que eu vá manter um belogue, que é justamente onde se revelam detalhes do cotidiano de quem escreve.
Mas é? Até agora, este saite ainda não disse onde moro, nem se ou onde ou com que trabalho, nem se ou o que estudo ou estudei, nem minha idade, nem...
Sabe por quê? Porque todos esses fatos e fatores são *irrelevantes* para definir quem sou e absolutamente irrelevantes a este belogue. Oh, sim, eles decisivamente influenciam quem sou, mas não é a partir deles que você pode afirmar quem sou, só o que faço. Estes textos valem (ou não, né) a partir do quanto eles contribuem para sua vida, Leitor. E a verdade (ou mentira) contida neles continuará sendo verdade (ou mentira) independentemente de quem eu seja. Embora dependentes, criador e criação são duas entidades distintas.
Assim, curiosamente, no belogue eu realmente revelo mais de quem sou do que na convivência com muita gente que se dirá próxima, porque aqui se derrama o que sinto e penso, no que acredito, do que gosto, como reajo às injustiças do mundo, opiniões, valores e aspirações, e é isso que define quem sou. Mesmo assim, em nenhum momento terá sido necessário relatar detalhes do ambiente que me cerca nem o que comi no café da manhã. Veja bem, não estou dizendo que não vá nem que não possa trazer esses relatos, que encontro nos belogues de que mais gosto. Na verdade, lá no rodapé, até indico minhas leituras presentes e parte das passadas, o que deveria revelar muito sobre qualquer um.
É claro que há extremados por aí, gente que não tem vida: o sujeito acredita que, já que tem um belogue, tem que contar tudo. Isso pode ser um sintoma de pessoa vazia, que, para se definir, precisa dos objetos a sua volta, para exclusão ou comparação.
Você não precisa escancarar sua vida privada para revelar quem é. As perguntas que restam são outras: o que você preza mais? O que é mais íntimo, sua mente ou seu quarto de dormir? Qual dos dois, uma vez revelado, vai lhe causar maior incômodo? Curiosamente, a resposta não é a mesma para todas.
Mas é? Até agora, este saite ainda não disse onde moro, nem se ou onde ou com que trabalho, nem se ou o que estudo ou estudei, nem minha idade, nem...
Sabe por quê? Porque todos esses fatos e fatores são *irrelevantes* para definir quem sou e absolutamente irrelevantes a este belogue. Oh, sim, eles decisivamente influenciam quem sou, mas não é a partir deles que você pode afirmar quem sou, só o que faço. Estes textos valem (ou não, né) a partir do quanto eles contribuem para sua vida, Leitor. E a verdade (ou mentira) contida neles continuará sendo verdade (ou mentira) independentemente de quem eu seja. Embora dependentes, criador e criação são duas entidades distintas.
Assim, curiosamente, no belogue eu realmente revelo mais de quem sou do que na convivência com muita gente que se dirá próxima, porque aqui se derrama o que sinto e penso, no que acredito, do que gosto, como reajo às injustiças do mundo, opiniões, valores e aspirações, e é isso que define quem sou. Mesmo assim, em nenhum momento terá sido necessário relatar detalhes do ambiente que me cerca nem o que comi no café da manhã. Veja bem, não estou dizendo que não vá nem que não possa trazer esses relatos, que encontro nos belogues de que mais gosto. Na verdade, lá no rodapé, até indico minhas leituras presentes e parte das passadas, o que deveria revelar muito sobre qualquer um.
É claro que há extremados por aí, gente que não tem vida: o sujeito acredita que, já que tem um belogue, tem que contar tudo. Isso pode ser um sintoma de pessoa vazia, que, para se definir, precisa dos objetos a sua volta, para exclusão ou comparação.
Você não precisa escancarar sua vida privada para revelar quem é. As perguntas que restam são outras: o que você preza mais? O que é mais íntimo, sua mente ou seu quarto de dormir? Qual dos dois, uma vez revelado, vai lhe causar maior incômodo? Curiosamente, a resposta não é a mesma para todas.
Papo de reacionário
Em retrospecto, é possível que eu pareça contradizer-me nesta mensagem de 5 de outubro, especificamente no parágrafo sobre a evolução da língua. Poderão argüir que eu esteja querendo ir contra o curso natural dessa evolução. Portanto, explicito-me.
O "curso natural de evolução da língua" não existe sozinho. Ele é fruto do falar de milhões de pessoas, que, coletivamente, diàriamente, moldam-na conforme suas pequenas escolhas, que, juntas, reúnem-se em um conjunto "médio" amorfo do qual se pode dizer: isto é a língua. A contribuição de cada um conta, dependendo de todos os fatores que influenciam esse cada um: idade, sexo, formação acadêmica (ou falta dela), gostos, inclinação sexual, situação financeira, caráter (ou falta dele) e tudo mais. Estou perfeitamente ciente de que esse somatório de bordas indefinidas possa formar-se de um modo bastante diferente do modo como eu gostaria.
É só que, se a língua é influenciada por todo o mundo, então a participação de cada um conta tanto quanto a do próximo (a propósito, encontre a tradução mal feita nesta frase). Nem isso é totalmente verdade, porque há pessoas que influenciam decisivamente sua língua, como os grandes poetas e oradores, mas, enfim, siga o raciocínio. Ora, se todas as contribuições contam, então a minha também conta. Posso escolher entre (1) meramente repetir o que ouço e (2) refletir, decidir e falar cuidadosa e ativamente aquilo que julgo conveniente na língua, aquilo que concordo que deva haver na língua ou ser a língua, suprimindo aquilo que não. Se eu adotar essa segunda opção (e você já percebeu que adoto), ela pode ser conservadora, pode ser progressista, pode ser a que eu quiser, e será tão válida e correta quanto a de qualquer representante da geração Pepsi (the choice of the new generation, pardon the pun). Então, minha pequena participação será puxando deliberadamente no sentido para onde aponta meu sistema de preferências, o que, neste caso específico, é o conservadorismo. A respeito de algumas das mudanças que ainda não aconteceram, estou atuando no sentido de não acontecerem mesmo, tão legitimamente quanto atua todo o mundo no outro sentido.
Nada disso nega um fato a que me rendo: quem define a língua globalmente, a língua que podemos afirmar com segurança ser a portuguesa, não sou eu sozinho, mas todos. Quando ela mudar, não vai ser a minha vontade isolada que vai fazer desmudar e, se eu quiser continuar falando português, vou ter que seguir o resultado da mudança. Não me iludo quanto a isso; quando todos estiverem escrevendo açim, terei q ser +1. Soh q por enqto so uma minoria (alias, como de habito, a + jovem) esta escrevendo sistematicamente açim.
É que tem gente que não reconhece que as forças conservadoras também existam e sejam válidas, preferindo acreditar que somente as forças transformadoras estejam corretas. Se fosse assim, minhas decisões estariam na contramão dos acertos, como pode ser que de fato estejam. Coerentes com essa posição, tais pessoas não admitem que alguém resista ao que enxergam como "evolução natural".
Todo discurso de que alguma coisa seja natural é, no fundo, um discurso ideológico: é alguém querendo te vender que determinado fenômeno social só possa ser de determinado jeito -- que, dirá, é o jeito "natural" -- porque assim lhe convém.
Mas, olha, eu nem sou radical nesta matéria. Prova disso é que eu misturei segunda com terceira pessoa do singular várias vezes aí em cima e aposto que você nem notou.
É claro, tudo que eu disse acima, como, aliás, tudo que eu digo, sempre, pode estar errado.
O "curso natural de evolução da língua" não existe sozinho. Ele é fruto do falar de milhões de pessoas, que, coletivamente, diàriamente, moldam-na conforme suas pequenas escolhas, que, juntas, reúnem-se em um conjunto "médio" amorfo do qual se pode dizer: isto é a língua. A contribuição de cada um conta, dependendo de todos os fatores que influenciam esse cada um: idade, sexo, formação acadêmica (ou falta dela), gostos, inclinação sexual, situação financeira, caráter (ou falta dele) e tudo mais. Estou perfeitamente ciente de que esse somatório de bordas indefinidas possa formar-se de um modo bastante diferente do modo como eu gostaria.
É só que, se a língua é influenciada por todo o mundo, então a participação de cada um conta tanto quanto a do próximo (a propósito, encontre a tradução mal feita nesta frase). Nem isso é totalmente verdade, porque há pessoas que influenciam decisivamente sua língua, como os grandes poetas e oradores, mas, enfim, siga o raciocínio. Ora, se todas as contribuições contam, então a minha também conta. Posso escolher entre (1) meramente repetir o que ouço e (2) refletir, decidir e falar cuidadosa e ativamente aquilo que julgo conveniente na língua, aquilo que concordo que deva haver na língua ou ser a língua, suprimindo aquilo que não. Se eu adotar essa segunda opção (e você já percebeu que adoto), ela pode ser conservadora, pode ser progressista, pode ser a que eu quiser, e será tão válida e correta quanto a de qualquer representante da geração Pepsi (the choice of the new generation, pardon the pun). Então, minha pequena participação será puxando deliberadamente no sentido para onde aponta meu sistema de preferências, o que, neste caso específico, é o conservadorismo. A respeito de algumas das mudanças que ainda não aconteceram, estou atuando no sentido de não acontecerem mesmo, tão legitimamente quanto atua todo o mundo no outro sentido.
Nada disso nega um fato a que me rendo: quem define a língua globalmente, a língua que podemos afirmar com segurança ser a portuguesa, não sou eu sozinho, mas todos. Quando ela mudar, não vai ser a minha vontade isolada que vai fazer desmudar e, se eu quiser continuar falando português, vou ter que seguir o resultado da mudança. Não me iludo quanto a isso; quando todos estiverem escrevendo açim, terei q ser +1. Soh q por enqto so uma minoria (alias, como de habito, a + jovem) esta escrevendo sistematicamente açim.
É que tem gente que não reconhece que as forças conservadoras também existam e sejam válidas, preferindo acreditar que somente as forças transformadoras estejam corretas. Se fosse assim, minhas decisões estariam na contramão dos acertos, como pode ser que de fato estejam. Coerentes com essa posição, tais pessoas não admitem que alguém resista ao que enxergam como "evolução natural".
Todo discurso de que alguma coisa seja natural é, no fundo, um discurso ideológico: é alguém querendo te vender que determinado fenômeno social só possa ser de determinado jeito -- que, dirá, é o jeito "natural" -- porque assim lhe convém.
Mas, olha, eu nem sou radical nesta matéria. Prova disso é que eu misturei segunda com terceira pessoa do singular várias vezes aí em cima e aposto que você nem notou.
É claro, tudo que eu disse acima, como, aliás, tudo que eu digo, sempre, pode estar errado.
Ironia trágica
Isaac Asimov tinha problemas de coração. Em 1983, fez uma cirurgia no próprio. Em 1992, morreu de problemas cardíacos e renais.
Asimov era um defensor ferrenho da razão e da Ciência e um dos intelectos mais poderosos e admiráveis que a humanidade conheceu. Pode-se argumentar que seja o escritor de ficção científica mais conhecido do mundo, tendo publicado Literatura e Ciência em cerca de quinhentos livros. Também era Ph.D. em Química e fôra (perdão pelo circunflexo) professor de Bioquímica.
Em 2002, a família revelou que a causa da morte haviam sido complicações da AIDS, que ele adquirira ao receber sangue contaminado naquela cirurgia.
Os dados secos eu vi na Wikipedia anteontem; a opinião é minha.
Isso não é uma ironia trágica? Logo ele! Defensor da Ciência! Bioquímico! Morrer de sangue contaminado!
Asimov era um defensor ferrenho da razão e da Ciência e um dos intelectos mais poderosos e admiráveis que a humanidade conheceu. Pode-se argumentar que seja o escritor de ficção científica mais conhecido do mundo, tendo publicado Literatura e Ciência em cerca de quinhentos livros. Também era Ph.D. em Química e fôra (perdão pelo circunflexo) professor de Bioquímica.
Em 2002, a família revelou que a causa da morte haviam sido complicações da AIDS, que ele adquirira ao receber sangue contaminado naquela cirurgia.
Os dados secos eu vi na Wikipedia anteontem; a opinião é minha.
Isso não é uma ironia trágica? Logo ele! Defensor da Ciência! Bioquímico! Morrer de sangue contaminado!
Taquente
Uma pessoa contou-me que sua professora tinha um filho de quatro anos. A história a seguir foi transmitida a mim pela primeira após ter sido narrada a ela pela segunda. Não importa se a história é verídica ou não, porque o ensinamento que extraí dela é válido independentemente dessa veracidade.
Toda vez que a professora acaba de fritar pastel, adverte seu filho de que "tá quente". Por causa disso, quando o garoto está com vontade de comer pastel, ele pede "mãe, faz taquente?".
Primeiro você acha engraçadinho e se lembra do Marcelo marmelo martelo, da Ruth Rocha. Depois pensa um pouco mais.
Olha só: em nenhum momento a mãe apontou o pastel e disse "isto é um taquente", que seria o modo mais ostensivo de se adquirir vocabulário. Tampouco disse ao menino, "Fulano, faz favor, me dá um taquente", que é o modo mais comum como todos nós costumamos adquirir vocabulário nessa idade: (1) ela me pediu um taquente, (2) ela apontou o objeto frito em forma de meia-lua, (3) logo, o objeto frito é um taquente.
Não, em verdade o que aconteceu foi que, repetidas vezes, a professora soltou a palavra "taquente" em um cenário bem definido, sempre o mesmo cenário básico. Havia pastéis em todas as repetições de tal cenário. Então, o garoto associou a palavra "taquente" àquele cenário e, necessariamente, à presença de pastéis, mas isso não quer dizer, necessariamente, que ele chame o pastel de taquente. De fato, essa palavra veio associada a uma experiência muito mais complexa: a pia da cozinha coberta de discos amarelos com plástico embaixo, o barulho da banha crepitando, o calor do fogão, o cheiro, a toalha de papel embebida em gordura, o queijo se esticando depois da mordida (não gosto de pastel de carne), a mão melada. Considero muito limitado atribuir o nome "taquente" apenas ao pastel. Na óptica do menino, "fazer taquente" é gerar toda essa situação. Só que a mãe não sabe: entendeu (corretamente) que é "fazer pastel", e isso lhe basta, assim como seu filho vai se lembrar, daqui a trinta anos, que pedia para fazer taquente e que isso significava pedir para fazer pastel.
Então, algumas lições você extrai de imediato, ou, pelo menos, eu as extraí.
1. De modo amplo, as pessoas entendem o que você diz e isso é suficiente para a comunicação, para se gerar o resultado desejado (nesse caso, a mãe atender ao pedido e fazer pastel) -- mas isso não quer dizer, em absoluto, que tenham entendido a mesma coisa que você quis dizer.
2. A aquisição de vocabulário é bastante dependente de contexto.
3. Cada palavra significa determinado significado, que está no dicionário. Acontece que, para cada ser humano, existe um mundo de conceitos e experiências pessoais, construídos historicamente, e são essas idéias que compõem o significado da palavra. Portanto, o significado é diferente para cada pessoa. Felizmente, os elementos primordiais são, na maioria das vezes, comuns a todo o mundo, e assim conseguimos nos entender. Mas nunca estamos (eu escrevendo ou falando e você lendo ou ouvindo) referindo-nos exatamente à mesma coisa. Uma característica que as instituições têm (a escola, a caserna, a Igreja) é justamente procurar uniformizar, tanto quanto possível, o vocabulário de seus integrantes, fazendo-os entender a mesma coisa do modo o mais parecido possível um com o dos outros, de modo a tornar irrelevantes ou indistintas as diferenças de percepção da palavra.
Mas é assim mesmo, não é? Novamente, esse é o problema da tradução de que tratei abaixo. Cada palavra tem tanta história por trás, história construída por seus falantes nativos, que uma completa e perfeita tradução é impossível. Pois se é impossível até entre aqueles falantes originais, que não concordam sobre o significado e nem percebem isso!
Toda vez que a professora acaba de fritar pastel, adverte seu filho de que "tá quente". Por causa disso, quando o garoto está com vontade de comer pastel, ele pede "mãe, faz taquente?".
Primeiro você acha engraçadinho e se lembra do Marcelo marmelo martelo, da Ruth Rocha. Depois pensa um pouco mais.
Olha só: em nenhum momento a mãe apontou o pastel e disse "isto é um taquente", que seria o modo mais ostensivo de se adquirir vocabulário. Tampouco disse ao menino, "Fulano, faz favor, me dá um taquente", que é o modo mais comum como todos nós costumamos adquirir vocabulário nessa idade: (1) ela me pediu um taquente, (2) ela apontou o objeto frito em forma de meia-lua, (3) logo, o objeto frito é um taquente.
Não, em verdade o que aconteceu foi que, repetidas vezes, a professora soltou a palavra "taquente" em um cenário bem definido, sempre o mesmo cenário básico. Havia pastéis em todas as repetições de tal cenário. Então, o garoto associou a palavra "taquente" àquele cenário e, necessariamente, à presença de pastéis, mas isso não quer dizer, necessariamente, que ele chame o pastel de taquente. De fato, essa palavra veio associada a uma experiência muito mais complexa: a pia da cozinha coberta de discos amarelos com plástico embaixo, o barulho da banha crepitando, o calor do fogão, o cheiro, a toalha de papel embebida em gordura, o queijo se esticando depois da mordida (não gosto de pastel de carne), a mão melada. Considero muito limitado atribuir o nome "taquente" apenas ao pastel. Na óptica do menino, "fazer taquente" é gerar toda essa situação. Só que a mãe não sabe: entendeu (corretamente) que é "fazer pastel", e isso lhe basta, assim como seu filho vai se lembrar, daqui a trinta anos, que pedia para fazer taquente e que isso significava pedir para fazer pastel.
Então, algumas lições você extrai de imediato, ou, pelo menos, eu as extraí.
1. De modo amplo, as pessoas entendem o que você diz e isso é suficiente para a comunicação, para se gerar o resultado desejado (nesse caso, a mãe atender ao pedido e fazer pastel) -- mas isso não quer dizer, em absoluto, que tenham entendido a mesma coisa que você quis dizer.
2. A aquisição de vocabulário é bastante dependente de contexto.
3. Cada palavra significa determinado significado, que está no dicionário. Acontece que, para cada ser humano, existe um mundo de conceitos e experiências pessoais, construídos historicamente, e são essas idéias que compõem o significado da palavra. Portanto, o significado é diferente para cada pessoa. Felizmente, os elementos primordiais são, na maioria das vezes, comuns a todo o mundo, e assim conseguimos nos entender. Mas nunca estamos (eu escrevendo ou falando e você lendo ou ouvindo) referindo-nos exatamente à mesma coisa. Uma característica que as instituições têm (a escola, a caserna, a Igreja) é justamente procurar uniformizar, tanto quanto possível, o vocabulário de seus integrantes, fazendo-os entender a mesma coisa do modo o mais parecido possível um com o dos outros, de modo a tornar irrelevantes ou indistintas as diferenças de percepção da palavra.
Mas é assim mesmo, não é? Novamente, esse é o problema da tradução de que tratei abaixo. Cada palavra tem tanta história por trás, história construída por seus falantes nativos, que uma completa e perfeita tradução é impossível. Pois se é impossível até entre aqueles falantes originais, que não concordam sobre o significado e nem percebem isso!
Tomar sua vida nas suas mãos dá trabalho
Existe mais de uma forma de se interpretar esse título. Minha preferida é a mesma que dou ao capítulo 3 do Gênesis e à saída suicida de David Bowman de dentro da Discovery em 2001: prefiro ser senhor de minha própria vida, embora comendo o pão do suor do meu rosto. Na verdade, o que aparece como lado ruim pode até ser algo bom, porque não só você garante que o resultado seja adequado a seu desejo como, também, pode extrair prazer da própria atividade de plantar, colher e amassar o pão.
Essa mensagem saiu completamente de minha intenção original, principalmente por causa do título que escolhi, que digitei antes dela e que, por isso, estimulou meu pensamento a pensar em outras coisas, como se não tivesse sido eu mesmo a escrever!
O original era o seguinte: tempo demais da vida é gasto em manutenção. Lavando a louça, escovando os dentes, atualizando as listas (quem as mantém, como é o caso de alguns belogueiros) ou o livro-caixa, guardando coisas nos seus lugares etc. Mesmo quem delega algumas tarefas (p.ex. passar as roupas) não escapa de todas. Resulta que boa parte do tempo da vida se escoa em atividades que não são aquelas que consideramos produtivas, interessantes, que vão gerar resultados de longo prazo.
Você discordará, dirá que a manutenção é necessária inclusive e especialmente a longo prazo. É verdade, mas veja que seus resultados não apenas não são visíveis assim (motivo eterno de suspiro para todos que trabalham com manutenção) como, em alguns casos, só a última vez é que conta. Se arrumo minhas camisas hoje, deixo desarrumadas amanhã e torno a arrumar no dia seguinte, no longo prazo foi só a última intervenção que serviu de alguma coisa. O máximo que se pode fazer é manter arrumado de modo a se reduzir o trabalho futuro da própria manutenção.
Frustrante, não?, que boa parte do que se faz seja apenas instrumental às atividades verdadeiramente produtivas, enriquecedoras, pelas quais você fica feliz em estar vivo.
Imagino que, se analisarmos nossas reclamações do cotidiano, descobriremos isto: que aquilo de que mais nos queixamos (mesmo que apenas internamente) como sendo coisas trabalhosas são justamente as tarefas que temos de repetir ciclicamente sem proveito evidente a longo prazo. "Pô, eu já tinha lavado essa camisa, vou ter que lavar de novo um mês depois."
Essa mensagem saiu completamente de minha intenção original, principalmente por causa do título que escolhi, que digitei antes dela e que, por isso, estimulou meu pensamento a pensar em outras coisas, como se não tivesse sido eu mesmo a escrever!
O original era o seguinte: tempo demais da vida é gasto em manutenção. Lavando a louça, escovando os dentes, atualizando as listas (quem as mantém, como é o caso de alguns belogueiros) ou o livro-caixa, guardando coisas nos seus lugares etc. Mesmo quem delega algumas tarefas (p.ex. passar as roupas) não escapa de todas. Resulta que boa parte do tempo da vida se escoa em atividades que não são aquelas que consideramos produtivas, interessantes, que vão gerar resultados de longo prazo.
Você discordará, dirá que a manutenção é necessária inclusive e especialmente a longo prazo. É verdade, mas veja que seus resultados não apenas não são visíveis assim (motivo eterno de suspiro para todos que trabalham com manutenção) como, em alguns casos, só a última vez é que conta. Se arrumo minhas camisas hoje, deixo desarrumadas amanhã e torno a arrumar no dia seguinte, no longo prazo foi só a última intervenção que serviu de alguma coisa. O máximo que se pode fazer é manter arrumado de modo a se reduzir o trabalho futuro da própria manutenção.
Frustrante, não?, que boa parte do que se faz seja apenas instrumental às atividades verdadeiramente produtivas, enriquecedoras, pelas quais você fica feliz em estar vivo.
Imagino que, se analisarmos nossas reclamações do cotidiano, descobriremos isto: que aquilo de que mais nos queixamos (mesmo que apenas internamente) como sendo coisas trabalhosas são justamente as tarefas que temos de repetir ciclicamente sem proveito evidente a longo prazo. "Pô, eu já tinha lavado essa camisa, vou ter que lavar de novo um mês depois."
06 outubro 2006
Fora de contexto, não deixa de ser engraçado. Aliás, em contexto também
No Grobo de hoje: "Cabral desiste de casamento gay para ficar com Crivella".
Como sei quem são os dois mas não me ligo tanto assim em política, de início entendi a outra coisa, essa que você pensou também. Foi depois que entendi.
Não é possível que o jornalista tenha escrito isso sem querer.
Em tempo, para quem não é do Estado do Rio: ambos eram candidatos a governador no primeiro turno.
Como sei quem são os dois mas não me ligo tanto assim em política, de início entendi a outra coisa, essa que você pensou também. Foi depois que entendi.
Não é possível que o jornalista tenha escrito isso sem querer.
Em tempo, para quem não é do Estado do Rio: ambos eram candidatos a governador no primeiro turno.
05 outubro 2006
A inevitável traição
Pra quem disse que não ia escrever com freqüência, eu estou aparecendo demais por aqui.
No saite pessoal do Alex Castro, existe um artigo interessantíssimo sobre a dificuldade, de fato a impossibilidade, de se traduzir. Ali está implícito que o objeto da tradução seja literário. Quando se traduz um texto de Engenharia ou Química, muitas vezes essa dificuldade é bastante atenuada ou nem surge. Existe, é verdade, mas perde-se muito menos do original ou, até, não se perde.
Agora, quando a tradução é de obra de arte (escrita ou audiovisual), realmente ele está certo. A obra audiovisual é mais do que seu texto, é mais do que a imagem, é a entonação do ator, é se ele fala alto ou baixo, é a escolha de voz que o diretor fez. Na verdade, a obra traduzida é outra obra. A legislação brasileira efetivamente a trata como obra derivada: não é a obra original, mas outra, muito parecida.
Isso não é necessariamente ruim: qualquer um que tenha ouvido o primeiro Homer Simpson brasileiro (dublado por Valdir Santana, desculpem a grafia) e o americano vai preferir o brasileiro. O mesmo vale para algumas exceções que ainda hei de lembrar. Só que tem uma coisa: não é o *mesmo* Homer Simpson, é outro. É outra obra. Se você quiser o original, tem que ver o original. Pode até ser que o traduzido corresponda melhor ao que o Autor quis, quem sabe?, mas, mesmo assim, a obra é a obra é a obra. É aquela.
Na Literatura, existe outra ponderação. Eu estava ao telefone há pouco (aliás, foi essa conversa que me motivou a vir escrever, captar da memória o que consigo de meu praticamente monólogo), pontificando como parecem fazer os belogueiros, e cheguei ao seguinte. O Alex Castro bem demonstrou, tão incontestável quanto possível, que Cervantes só no original. Mostrou: no espanhol d'antanho, em português contemporâneo, em inglês tacanho.
Pois argumento mais. Veja o que fiz com você no parágrafo acima:
...d'antanho, ...contemporâneo, ...tacanho. Então, a Literatura tem esta dependência da forma, do SOM DA LÍNGUA. Eu não quis só dizer o significado que disse, também quis a aliteração. Se verter isso pro inglês, esse tanto já estará perdido.
Na Literatura, forma e significado são indissociáveis. É mais do que não ter uma sem a outra: uma só existe porque a outra é a outra. Tenta ler Tolkien traduzido. Oh, sim, a história é a mesma, factualmente -- ou será que é? A história tem, inclusive, o ritmo que as palavras lhe imprimem, desculpem o trocadilho. As palavras rolam com a métrica que o Autor lhes deu. Ora, a métrica vem da língua, é o que é possível fazer com as opções que aquela língua oferece, e a língua é o que é por causa de tudo que lhe aconteceu, a religião daquele povo, as guerras e crises que atravessou, a economia que conduziu, sua visão de seu próprio significado no mundo. Falando em Tolkien, compare o *som* de um elfo falando com o de um anão. Compare um klingon, ou um alemão, com um francês. Se você quiser realmente compreender a completa mensagem, absorver o que o Autor destilou para você, vai ter que conhecer a história que existe por trás daquela pessoa, que influencia até a freqüência com que os fonemas fazem música ou dissonância no seu ouvido. No mínimo, viver a realidade que ele vive, freqüentar os mesmos lugares, comer a comida que ele come.
Deixem-me dar um exemplo concreto, além daquele do ovo da galinha e da pele do urso. Hoje em dia, no Brasil, a empresa Gol é percebida como oferecendo passagens aéreas mais baratas do que as da concorrência, certo? A forma como ela consegue isso são várias pequenas medidas, entre as quais a que o passageiro mais percebe é a simplicidade da refeição servida a bordo: uma barrinha de cereal (que, recentemente, mudou para aquelas barrinhas de goiabinha da Bauducco) e um pacote de amendoim (que mudou para um pacotico de cream crackers, também da Bauducco). Ora, já li em mais de uma revista de aviação brasileira que "a Gol é barata, mas eu não agüento mais barrinha".
Naturalmente, quem está lendo entende, implicitamente, que o dono da opinião está se referindo a isso que eu disse no parágrafo acima. Agora, considere que você não viaja de avião, nem nunca alguém lhe contou que a Gol serve barrinha. Se você lê essa frase acima, assim como está, sem explicações, o que você vai entender? A que barrinha você acha que o Autor está se referindo? Barrinha de chocolate? Barra da calça da aeromoça? Barra de reboque do trem de pouso? Barra de rolagem do monitor de quem compra a passagem?
Então já falei da forma em si mesma, da forma que o poeta martela para soar bem e que se perde na tradução, e já falei do problema intrínseco da linguagem. Por todas essas razões, sim, pretendo, sempre que possível, ler tudo no original. Infelizmente, não entendo lhufas de russo, italiano ou alemão, de modo que alguns Autores, hoje, para mim, estão do outro lado do arame farpado. Mas em inglês, em francês e espanhol até, que não falo, a compensação sempre vale o esforço. Para ter contato com as idéias, a tradução vale; para ter certeza de ter entendido as idéias e para ter contato com toda a mesma arte que saiu da mente do Autor, só o original.
Fora que você escapa dos erros de tradução grosseiros mesmo, como naquele conto da excelente coletânea Máquinas que pensam (nunca paguei tão barato num sebo), editada pela L&PM, onde a linha DEW foi traduzida assim: "linha de CONDENSAÇÃO", toda em maiúsculas. Contexto: o personagem é um general da Força Aérea americana (sim, eu disse "general", não disse "brigadeiro". Qualquer dia explico) lidando com a possibilidade de mísseis soviéticos vindo pela rota polar, captados pela linha de radares de alerta antecipado distante.
Como se pode ver, o tradutor tem que entender o que está no texto. Dew é orvalho, condensação, mas, no contexto, que tal eu contar a você que é a sigla da rede de radares de Distant Early Warning? Essa rede existe e realmente leva esse nome, "DEW line".
E olha que eu não disse que o problema não existe em tradução de texto técnico. Meu, até manual de manutenção de equipamento passa por isso. É só que não é tão grave.
No saite pessoal do Alex Castro, existe um artigo interessantíssimo sobre a dificuldade, de fato a impossibilidade, de se traduzir. Ali está implícito que o objeto da tradução seja literário. Quando se traduz um texto de Engenharia ou Química, muitas vezes essa dificuldade é bastante atenuada ou nem surge. Existe, é verdade, mas perde-se muito menos do original ou, até, não se perde.
Agora, quando a tradução é de obra de arte (escrita ou audiovisual), realmente ele está certo. A obra audiovisual é mais do que seu texto, é mais do que a imagem, é a entonação do ator, é se ele fala alto ou baixo, é a escolha de voz que o diretor fez. Na verdade, a obra traduzida é outra obra. A legislação brasileira efetivamente a trata como obra derivada: não é a obra original, mas outra, muito parecida.
Isso não é necessariamente ruim: qualquer um que tenha ouvido o primeiro Homer Simpson brasileiro (dublado por Valdir Santana, desculpem a grafia) e o americano vai preferir o brasileiro. O mesmo vale para algumas exceções que ainda hei de lembrar. Só que tem uma coisa: não é o *mesmo* Homer Simpson, é outro. É outra obra. Se você quiser o original, tem que ver o original. Pode até ser que o traduzido corresponda melhor ao que o Autor quis, quem sabe?, mas, mesmo assim, a obra é a obra é a obra. É aquela.
Na Literatura, existe outra ponderação. Eu estava ao telefone há pouco (aliás, foi essa conversa que me motivou a vir escrever, captar da memória o que consigo de meu praticamente monólogo), pontificando como parecem fazer os belogueiros, e cheguei ao seguinte. O Alex Castro bem demonstrou, tão incontestável quanto possível, que Cervantes só no original. Mostrou: no espanhol d'antanho, em português contemporâneo, em inglês tacanho.
Pois argumento mais. Veja o que fiz com você no parágrafo acima:
...d'antanho, ...contemporâneo, ...tacanho. Então, a Literatura tem esta dependência da forma, do SOM DA LÍNGUA. Eu não quis só dizer o significado que disse, também quis a aliteração. Se verter isso pro inglês, esse tanto já estará perdido.
Na Literatura, forma e significado são indissociáveis. É mais do que não ter uma sem a outra: uma só existe porque a outra é a outra. Tenta ler Tolkien traduzido. Oh, sim, a história é a mesma, factualmente -- ou será que é? A história tem, inclusive, o ritmo que as palavras lhe imprimem, desculpem o trocadilho. As palavras rolam com a métrica que o Autor lhes deu. Ora, a métrica vem da língua, é o que é possível fazer com as opções que aquela língua oferece, e a língua é o que é por causa de tudo que lhe aconteceu, a religião daquele povo, as guerras e crises que atravessou, a economia que conduziu, sua visão de seu próprio significado no mundo. Falando em Tolkien, compare o *som* de um elfo falando com o de um anão. Compare um klingon, ou um alemão, com um francês. Se você quiser realmente compreender a completa mensagem, absorver o que o Autor destilou para você, vai ter que conhecer a história que existe por trás daquela pessoa, que influencia até a freqüência com que os fonemas fazem música ou dissonância no seu ouvido. No mínimo, viver a realidade que ele vive, freqüentar os mesmos lugares, comer a comida que ele come.
Deixem-me dar um exemplo concreto, além daquele do ovo da galinha e da pele do urso. Hoje em dia, no Brasil, a empresa Gol é percebida como oferecendo passagens aéreas mais baratas do que as da concorrência, certo? A forma como ela consegue isso são várias pequenas medidas, entre as quais a que o passageiro mais percebe é a simplicidade da refeição servida a bordo: uma barrinha de cereal (que, recentemente, mudou para aquelas barrinhas de goiabinha da Bauducco) e um pacote de amendoim (que mudou para um pacotico de cream crackers, também da Bauducco). Ora, já li em mais de uma revista de aviação brasileira que "a Gol é barata, mas eu não agüento mais barrinha".
Naturalmente, quem está lendo entende, implicitamente, que o dono da opinião está se referindo a isso que eu disse no parágrafo acima. Agora, considere que você não viaja de avião, nem nunca alguém lhe contou que a Gol serve barrinha. Se você lê essa frase acima, assim como está, sem explicações, o que você vai entender? A que barrinha você acha que o Autor está se referindo? Barrinha de chocolate? Barra da calça da aeromoça? Barra de reboque do trem de pouso? Barra de rolagem do monitor de quem compra a passagem?
Então já falei da forma em si mesma, da forma que o poeta martela para soar bem e que se perde na tradução, e já falei do problema intrínseco da linguagem. Por todas essas razões, sim, pretendo, sempre que possível, ler tudo no original. Infelizmente, não entendo lhufas de russo, italiano ou alemão, de modo que alguns Autores, hoje, para mim, estão do outro lado do arame farpado. Mas em inglês, em francês e espanhol até, que não falo, a compensação sempre vale o esforço. Para ter contato com as idéias, a tradução vale; para ter certeza de ter entendido as idéias e para ter contato com toda a mesma arte que saiu da mente do Autor, só o original.
Fora que você escapa dos erros de tradução grosseiros mesmo, como naquele conto da excelente coletânea Máquinas que pensam (nunca paguei tão barato num sebo), editada pela L&PM, onde a linha DEW foi traduzida assim: "linha de CONDENSAÇÃO", toda em maiúsculas. Contexto: o personagem é um general da Força Aérea americana (sim, eu disse "general", não disse "brigadeiro". Qualquer dia explico) lidando com a possibilidade de mísseis soviéticos vindo pela rota polar, captados pela linha de radares de alerta antecipado distante.
Como se pode ver, o tradutor tem que entender o que está no texto. Dew é orvalho, condensação, mas, no contexto, que tal eu contar a você que é a sigla da rede de radares de Distant Early Warning? Essa rede existe e realmente leva esse nome, "DEW line".
E olha que eu não disse que o problema não existe em tradução de texto técnico. Meu, até manual de manutenção de equipamento passa por isso. É só que não é tão grave.
E agora, as notícias do dia
1. Sobre o malfadado avião da Gol
A repórter da Grobo dizia, "segundo a Aeronáutica, o Legacy tem dois transponders" (...).
Aviônicos emplumados, não é possível! Vocês ouviram isso? Essa é a imprensa que nós temos no Brasil? Essa é a imprensa que eu quero? E o trabalho do jornalista, onde fica? Eu não sei vocês, mas, quando fui à escola (não, eu não fiz Jornalismo), aprendi que jornalista tem é que investigar, tem que fuçar, tem que pesquisar: vai à EMBRAER, vai à Internet, pega um livro, consulta um especialista, pergunta a um piloto, "é verdade que tem dois transponders?", descobre a verdade sozinho, não fica repetindo discurso de brigadeiro. NÃO FOI A FORÇA AÉREA QUE FABRICOU O LEGACY. Portanto, ela tem tanta legitimidade quanto eu e você para dizer qual é o equipamento que esse avião leva.
Mas não, o que se quer é tirar da reta, jamais assumir responsabilidade pelo que se diz. Qualquer coisa, não foi a Grobo, foi a Aeronáutica quem disse, certo? O jornal só repetiu, sem verificar, sem questionar.
Malditos sejam todos. Inclusive eu.
2. Sobre o desperdício causado pelas normas tributárias
Em outra notícia, mostrou-se o resultado de um estudo segundo o qual, de outubro de 1988 a hoje, a legislação tributária atravessou aí alguns milhares de mudanças. Estou entendendo que seja apenas a legislação federal, sem contar as estaduais nem as municipais -- ou os caras do Instituto foram até o Crato ou São Gabriel da Cachoeira para apurar? Nada contra esses lugares; ao contrário: considerar que só conte a legislação federal, sem sequer mencionar que os municípios distantes não foram incluídos, parece-me quase uma forma de anulá-los, certamente de desprezá-los.
Mas então, dizia, a Fátima Bernardes falou que o Brasil desperdiça R$ 30 bi por ano só em contratar gente pra acompanhar o emaranhado das alterações normativas tributárias.
Meu problema é com a palavra "desperdiça". Pergunte a um desses contadores, técnicos em Contabilidade, escriturários, estagiários e advogados, pergunte a eles se esse dinheiro é desperdiçado. Contadores e juristas também comem!
É verdade, esse dinheiro poderia estar sendo gasto em outra coisa, inclusive remunerando esses mesmos profissionais por algum outro serviço. Mas, da maneira como está, não é desperdício! Percebem a diferença? Se esse dinheiro circularia mesmo, se está girando dentro da economia mesmo, não é desperdício para o Brasil! Sim, é desperdício para quem paga o profissional, mas, para este, é meio de sustento! Então, para o Brasil não é desperdício, já que os dois são brasileiros e o dinheiro continua aqui dentro, gerando empregos e sustento. Certamente é dinheiro que não está frutificando fisicamente, não é mais colheita nem mais produção industrial, mas está, sim, aumentando o PIB.
3. Mais sobre as normas tributárias
Em outro canal, a notícia foi dada assim: que, de 1988 até hoje, houve 3 milhões e tantas mil alterações na Constituição...
Aí você pára. Hein? A Constituição não tem 3 milhões de palavras, nem se incluir os nomes dos constituintes no final. Na verdade, não dá 72 mil. Como pode ter havido 3 Malterações?
O que é que eu dizia mesmo sobre imprensa que não verifica a informação? Agora, é um caso de jornalista que ouve o galo cantar, não sabe onde, e nem ao menos pensa meio segundo sobre o resumo que simplesmente vomita no telejornal, tal como veio, sem entender, o negócio é só repetir, certo?
Aliás, eu fico pensando. Afinal, são 3 milhões de quê? De normas não são, que o outro lá já disse. Emendas à Constituição foram 58, se contar as de revisão; as tributárias foram doze, se for verdade o que disseram. Leis foram algumas, talvez, centenas. Demais normas (decretos, portarias, resoluções, regulamentos, instruções normativas etc.) devem dar os tais milhares que o do primeiro canal disse. Então, são 3 milhões de quê?
Quem tiver a resposta, por favor, considere-se encorajado a comentar abaixo.
A repórter da Grobo dizia, "segundo a Aeronáutica, o Legacy tem dois transponders" (...).
Aviônicos emplumados, não é possível! Vocês ouviram isso? Essa é a imprensa que nós temos no Brasil? Essa é a imprensa que eu quero? E o trabalho do jornalista, onde fica? Eu não sei vocês, mas, quando fui à escola (não, eu não fiz Jornalismo), aprendi que jornalista tem é que investigar, tem que fuçar, tem que pesquisar: vai à EMBRAER, vai à Internet, pega um livro, consulta um especialista, pergunta a um piloto, "é verdade que tem dois transponders?", descobre a verdade sozinho, não fica repetindo discurso de brigadeiro. NÃO FOI A FORÇA AÉREA QUE FABRICOU O LEGACY. Portanto, ela tem tanta legitimidade quanto eu e você para dizer qual é o equipamento que esse avião leva.
Mas não, o que se quer é tirar da reta, jamais assumir responsabilidade pelo que se diz. Qualquer coisa, não foi a Grobo, foi a Aeronáutica quem disse, certo? O jornal só repetiu, sem verificar, sem questionar.
Malditos sejam todos. Inclusive eu.
2. Sobre o desperdício causado pelas normas tributárias
Em outra notícia, mostrou-se o resultado de um estudo segundo o qual, de outubro de 1988 a hoje, a legislação tributária atravessou aí alguns milhares de mudanças. Estou entendendo que seja apenas a legislação federal, sem contar as estaduais nem as municipais -- ou os caras do Instituto foram até o Crato ou São Gabriel da Cachoeira para apurar? Nada contra esses lugares; ao contrário: considerar que só conte a legislação federal, sem sequer mencionar que os municípios distantes não foram incluídos, parece-me quase uma forma de anulá-los, certamente de desprezá-los.
Mas então, dizia, a Fátima Bernardes falou que o Brasil desperdiça R$ 30 bi por ano só em contratar gente pra acompanhar o emaranhado das alterações normativas tributárias.
Meu problema é com a palavra "desperdiça". Pergunte a um desses contadores, técnicos em Contabilidade, escriturários, estagiários e advogados, pergunte a eles se esse dinheiro é desperdiçado. Contadores e juristas também comem!
É verdade, esse dinheiro poderia estar sendo gasto em outra coisa, inclusive remunerando esses mesmos profissionais por algum outro serviço. Mas, da maneira como está, não é desperdício! Percebem a diferença? Se esse dinheiro circularia mesmo, se está girando dentro da economia mesmo, não é desperdício para o Brasil! Sim, é desperdício para quem paga o profissional, mas, para este, é meio de sustento! Então, para o Brasil não é desperdício, já que os dois são brasileiros e o dinheiro continua aqui dentro, gerando empregos e sustento. Certamente é dinheiro que não está frutificando fisicamente, não é mais colheita nem mais produção industrial, mas está, sim, aumentando o PIB.
3. Mais sobre as normas tributárias
Em outro canal, a notícia foi dada assim: que, de 1988 até hoje, houve 3 milhões e tantas mil alterações na Constituição...
Aí você pára. Hein? A Constituição não tem 3 milhões de palavras, nem se incluir os nomes dos constituintes no final. Na verdade, não dá 72 mil. Como pode ter havido 3 Malterações?
O que é que eu dizia mesmo sobre imprensa que não verifica a informação? Agora, é um caso de jornalista que ouve o galo cantar, não sabe onde, e nem ao menos pensa meio segundo sobre o resumo que simplesmente vomita no telejornal, tal como veio, sem entender, o negócio é só repetir, certo?
Aliás, eu fico pensando. Afinal, são 3 milhões de quê? De normas não são, que o outro lá já disse. Emendas à Constituição foram 58, se contar as de revisão; as tributárias foram doze, se for verdade o que disseram. Leis foram algumas, talvez, centenas. Demais normas (decretos, portarias, resoluções, regulamentos, instruções normativas etc.) devem dar os tais milhares que o do primeiro canal disse. Então, são 3 milhões de quê?
Quem tiver a resposta, por favor, considere-se encorajado a comentar abaixo.
É contagioso
Sim, eu critico esses belogues pela arrogância e unanimidade com que tratam de política, mas, de resto, são todos tão interessantes! Não sei o que há, sempre me pego concordando com a atitude com que seus escritores encaram os problemas do cotidiano, ou com seus argumentos, que me parecem todos tão sensatos e racionais. Oquei, quase sempre, mas a recorrência da concordância chega a me preocupar. Normalmente, eu discordo das atitudes comuns nas pessoas comuns, mas esses belogueiros são pessoas comuns, então o silogismo me obriga a discordar... pondo-me em contradição.
O que acontece é que sempre me estimulam, em geral a comentar minha própria percepção sobre o tema da ocasião, quase sempre com uma experiência pessoal que tende a reforçar o ponto de vista deles, uma história semelhante ou uma motivação a ter cometido o mesmo ato. O mais das vezes, consigo não deixar comentário, outras vezes não agüento. Na verdade, este belogue aqui é, em parte, minha tentativa de assumir mais o crédito por aquilo que, de outro modo, deixaria registrado no belogue dos outros. Quer dizer, quero evitar o parasitismo: embora o texto dos outros é que me estimule a escrever, embora eu tenda a ir na aba deles, quero, ao menos, ainda aparecer como o autor principal daquilo que eu mesmo estou dizendo. Infelizmente, isso não foge ao fantasma do exibicionismo, tanto já denunciado quanto verdadeiro (q.v. abaixo).
Outra utilidade é a catarse. Para mim, escrever tem sido sempre um mecanismo para pensar mais concentradamente no assunto que me perturba (seja qual for) e também para, logo em seguida, não ter mais que pensar nele, de certo modo libertando-me até sua próxima investida, que costuma acontecer mais cedo ou mais tarde.
Você descobre (ao menos eu descobri) que, como quase tudo na vida, acaba sendo uma questão de prática. Quanto mais você escreve, mais fácil e mais natural fica, até o ponto de ser um impulso permanente. De início, atua um filtro do que vale a pena pôr aqui. Depois, as inibições vão sumindo, e o texto também vai ficando mais fluido. Naturalmente, o preço que se paga é o aumento da banalidade.
... Ou não? Engraçado, em certos belogues, antigos até, o nível de relevância aumentou com o decurso do tempo em vez de diminuir. Veja esses aí ao lado.
O que acontece é que sempre me estimulam, em geral a comentar minha própria percepção sobre o tema da ocasião, quase sempre com uma experiência pessoal que tende a reforçar o ponto de vista deles, uma história semelhante ou uma motivação a ter cometido o mesmo ato. O mais das vezes, consigo não deixar comentário, outras vezes não agüento. Na verdade, este belogue aqui é, em parte, minha tentativa de assumir mais o crédito por aquilo que, de outro modo, deixaria registrado no belogue dos outros. Quer dizer, quero evitar o parasitismo: embora o texto dos outros é que me estimule a escrever, embora eu tenda a ir na aba deles, quero, ao menos, ainda aparecer como o autor principal daquilo que eu mesmo estou dizendo. Infelizmente, isso não foge ao fantasma do exibicionismo, tanto já denunciado quanto verdadeiro (q.v. abaixo).
Outra utilidade é a catarse. Para mim, escrever tem sido sempre um mecanismo para pensar mais concentradamente no assunto que me perturba (seja qual for) e também para, logo em seguida, não ter mais que pensar nele, de certo modo libertando-me até sua próxima investida, que costuma acontecer mais cedo ou mais tarde.
Você descobre (ao menos eu descobri) que, como quase tudo na vida, acaba sendo uma questão de prática. Quanto mais você escreve, mais fácil e mais natural fica, até o ponto de ser um impulso permanente. De início, atua um filtro do que vale a pena pôr aqui. Depois, as inibições vão sumindo, e o texto também vai ficando mais fluido. Naturalmente, o preço que se paga é o aumento da banalidade.
... Ou não? Engraçado, em certos belogues, antigos até, o nível de relevância aumentou com o decurso do tempo em vez de diminuir. Veja esses aí ao lado.
Já é de maior
Hoje, adivinha quem faz aniversário? Hm? Hm?
Acertou quem disse "a Constituição da República". Êêêêêêê!
Em uma nota de rodapé, também hoje saiu na capa de um tablóide que uma vidente foi à Ana Maria Braga provar que previra a queda do Boeing da Gol.
Como já disse um amigo meu: essa gente tem uma dificuldade séria de vocabulário. "Prever" é quando você fica sabendo *antes*, não *depois*.
E aqueles belogues, continuo pesquisando, continuam falando de política (brasileira, americana, européia) em primeiro lugar, sempre defendendo o Estado policial, a ditadura da direita, e atacando sem trégua o Estado total, a ditadura da esquerda. Continuo censurando essa atitude. Como sempre, resmungos de quem se julga superior a tudo isso, o que, conforme já apontado por um deles (não lembro quem), é um traço comum a belogueiros e leitores ávidos em geral, identificador de inteligência acima da média mas abaixo do mínimo necessário.
Agora, como sói acontecer em matéria de belogues quando não tratam de política, sou levado a concordar com suas visões libertárias. Aliás, esse é o termo que o Alex Castro escolheu para rotular a si mesmo, ele que não gosta de rótulos. Este texto dele sobre línguas é uma pérola e conseguiu coadunar-se precisamente na minha visão sobre o assunto. A história do chofer eu já conhecia, e já faz anos que evito anglicismos, galicismos e afins. Escolhi alinhar-me às forças conservadoras da língua que ele menciona, mas essa foi *minha* escolha política, uma decisão renovada a cada texto, cada fala, cada frase, cadafalso, com a qual pretendo dar minha pequena contribuição para que o português não desapareça tão rápido. Há muito tempo decidi que vou evitar termos estrangeiros quando forem evitáveis, quando houver um termo em português, deixando para adotar estrangeirismos quando realmente não houver alternativa, por algumas razões simples: foi a língua que aprendi, é a língua que me parece coerente eu usar (não, eu não errei o uso dos pronomes nem a concordância; leia de novo devagar), e é a língua em que, teoricamente, qualquer um a meu redor deverá ser capaz de entender tudo que eu disser se for nela que eu me expressar.
É claro que isso tem um limite, e estou ciente de que a evolução é necessária e inexorável. Afinal, que é o português, que são o espanhol, o italiano, o francês senão um latim mal falado e contaminado pela língua dos nativos? E que é o latim, senão a língua embrutecida dos incultos e belicosos habitantes do Lácio, corrupção da que veio antes e que não sei qual era? Então, talvez pecando pelo excesso de relativismo, quase afirmo que o português não existe, que o português falado no Brasil (contaminado de termos indígenas e outros que não existem em Portugal, como o anglicismo forró) não existe, que nenhuma língua existe, a língua é a língua de cada um, um tantinho diferente da dos circundantes, nunca a mesma, igual, homogênea. Tomei para mim esta versão do português, com o mínimo de contaminações, nem por isso querendo "defender o português". Esta é a minha versão de uma língua, escolha pessoal que a ninguém imponho. Em concordância com o artigo que estimulou esta mensagem, lembro que uma língua tem o vigor de sua cultura, mantendo-se espontaneamente, por si mesma, infensa a invasões de sua identidade enquanto sua nação assim se mantiver. Se o português brasileiro afinal se revela necessitado de ajuda, é que não teve esse vigor; se precisa de que as pessoas o defendam, é que a própria cultura brasileira não se está sustentando sòzinha. Nesse caso, é somente por suas próprias falhas que cai do céu em chamas, e não merece qualquer caridade. Assim, vou me expressando, tanto quanto posso, no português que reputo puro, o mais parecido que consigo com nossas raízes greco-latinas; mas, se eu mesmo não tenho muito sucesso ou já não me entendem, é mais falha da língua do que minha.
Acertou quem disse "a Constituição da República". Êêêêêêê!
Em uma nota de rodapé, também hoje saiu na capa de um tablóide que uma vidente foi à Ana Maria Braga provar que previra a queda do Boeing da Gol.
Como já disse um amigo meu: essa gente tem uma dificuldade séria de vocabulário. "Prever" é quando você fica sabendo *antes*, não *depois*.
E aqueles belogues, continuo pesquisando, continuam falando de política (brasileira, americana, européia) em primeiro lugar, sempre defendendo o Estado policial, a ditadura da direita, e atacando sem trégua o Estado total, a ditadura da esquerda. Continuo censurando essa atitude. Como sempre, resmungos de quem se julga superior a tudo isso, o que, conforme já apontado por um deles (não lembro quem), é um traço comum a belogueiros e leitores ávidos em geral, identificador de inteligência acima da média mas abaixo do mínimo necessário.
Agora, como sói acontecer em matéria de belogues quando não tratam de política, sou levado a concordar com suas visões libertárias. Aliás, esse é o termo que o Alex Castro escolheu para rotular a si mesmo, ele que não gosta de rótulos. Este texto dele sobre línguas é uma pérola e conseguiu coadunar-se precisamente na minha visão sobre o assunto. A história do chofer eu já conhecia, e já faz anos que evito anglicismos, galicismos e afins. Escolhi alinhar-me às forças conservadoras da língua que ele menciona, mas essa foi *minha* escolha política, uma decisão renovada a cada texto, cada fala, cada frase, cadafalso, com a qual pretendo dar minha pequena contribuição para que o português não desapareça tão rápido. Há muito tempo decidi que vou evitar termos estrangeiros quando forem evitáveis, quando houver um termo em português, deixando para adotar estrangeirismos quando realmente não houver alternativa, por algumas razões simples: foi a língua que aprendi, é a língua que me parece coerente eu usar (não, eu não errei o uso dos pronomes nem a concordância; leia de novo devagar), e é a língua em que, teoricamente, qualquer um a meu redor deverá ser capaz de entender tudo que eu disser se for nela que eu me expressar.
É claro que isso tem um limite, e estou ciente de que a evolução é necessária e inexorável. Afinal, que é o português, que são o espanhol, o italiano, o francês senão um latim mal falado e contaminado pela língua dos nativos? E que é o latim, senão a língua embrutecida dos incultos e belicosos habitantes do Lácio, corrupção da que veio antes e que não sei qual era? Então, talvez pecando pelo excesso de relativismo, quase afirmo que o português não existe, que o português falado no Brasil (contaminado de termos indígenas e outros que não existem em Portugal, como o anglicismo forró) não existe, que nenhuma língua existe, a língua é a língua de cada um, um tantinho diferente da dos circundantes, nunca a mesma, igual, homogênea. Tomei para mim esta versão do português, com o mínimo de contaminações, nem por isso querendo "defender o português". Esta é a minha versão de uma língua, escolha pessoal que a ninguém imponho. Em concordância com o artigo que estimulou esta mensagem, lembro que uma língua tem o vigor de sua cultura, mantendo-se espontaneamente, por si mesma, infensa a invasões de sua identidade enquanto sua nação assim se mantiver. Se o português brasileiro afinal se revela necessitado de ajuda, é que não teve esse vigor; se precisa de que as pessoas o defendam, é que a própria cultura brasileira não se está sustentando sòzinha. Nesse caso, é somente por suas próprias falhas que cai do céu em chamas, e não merece qualquer caridade. Assim, vou me expressando, tanto quanto posso, no português que reputo puro, o mais parecido que consigo com nossas raízes greco-latinas; mas, se eu mesmo não tenho muito sucesso ou já não me entendem, é mais falha da língua do que minha.
04 outubro 2006
Natalício da Era Espacial
Há 49 anos nesta data, deu-se o lançamento do Sputnik I.
Quero ver no ano que vem, quando for o cinqüentenário.
Quero ver no ano que vem, quando for o cinqüentenário.
03 outubro 2006
De exibicionistas resmungões
Existem vários belogues que aprecio (alguns de cujos linques, aliás, você encontra à direita em sua tela). Na maioria das vezes, sou levado a concordar com seus resmungos e simpatizar com suas dificuldades diárias, em geral cometidas por terceiros estúpidos.
Aí é que começam meus problemas de percepção. De acordo com a minha, os belogueiros que visito são sempre pessoas mais inteligentes, mais politizadas, mais cultas, mais viajadas, mais atualizadas com jornais, revistas, notícias, Internet, tecnologia, polêmicas da Biologia e escândalos políticos, mais antenadas com a Grande Rede e mais familiarizadas com as novas formas de conectividade do que eu. Resmungam sempre, conhecem o mundo, estão sempre manifestando sua insatisfação com a ignorância e a burrice alheias naquilo que lhes limitam a liberdade, estão sempre identificando bem as causas desses fenômenos, estão sempre lendo algum livro interessante, ouvindo boa música (em geral baixada), acompanhando os seriados da moda, de resto conseguindo fugir de tudo quanto é emburrecimento de massa... O et coetera é longo.
De meu lado, pouco viajo, pouco leio, pouco me exponho, pouco me atualizo, só fico estudando e lendo revistas em quadrinhos. Emocionalmente, isso tende a tornar-me complexado. Intelectualmente, sei que não devo por todas as razões de diversidade. De todo modo, surge uma dúvida: se somos tantos e todos tão inteligentes, se conseguimos tão bem pôr o dedo no que está errado no mundo, como pode a sociedade continuar tão errada?
Esses belogueiros têm gasto boa parte de seus textos em política, e não só por causa das eleições; já o faziam antes. Denunciam as trapalhadas e as faltas de lógica e de consistência dos políticos, em geral aqueles da anteriormente denominada esquerda. Com uma incômoda arrogância, manifestam a obviedade de como são muito mais preparados os políticos da anteriormente denominada direita. Discursam com enorme autoridade sobre como é muito mais indicado o caminho do máximo liberalismo econômico e político e como é infinitamente burro e autoritário qualquer dirigismo estatal (no que estão certos em parte e, infelizmente, a esquerda socializante brasileira não ajuda a mostrá-los errados, com a tendência stalinista que costuma demonstrar). Manifestam um ódio incontrolado contra toda forma de organização governamental.
Não posso dizer que estejam errados. Alimentam o debate político, que é fundamental para uma democracia; quanto mais dele, melhor. Os gregos consideravam que o comparecimento à ágora para discussão fosse um dever cívico. Precisamos de resmungões que se queixem do governo e da oposição diuturnamente, precisamos da fiscalização do eleitor.
Só que, mais uma vez, meu problema é com minha falta de certezas. Não tenho as convicções vigorosas que esses belogueiros não hesitam em defender. Penso, voto, mas não quero fazer da política minha vida, nem creio que qualquer posição política esteja correta ou que algum político realmente tenha desejo de seguir a linha ostensiva de seu partido. Acredito, isto sim, que "a vida esteja em outro lugar", que independe dos ocupantes de cargos. Da mesma forma, a empolgação que manifestam sobre a tecnologia da informação, as facilidades que advogam de se fazer tudo à distância, não deixam de me indicar que esteja havendo um excesso de dependência voluntária sobre a máquina.
Além disso, essas pessoas estão sempre se queixando do quanto os imbecis procuram limitar sua liberdade de expressão. É verdade, os imbecis estão sempre fazendo isso. Porém, parece-me que se tenha chegado a um metadiscurso permanente: vezes demais, o objeto do texto é justamente o grito de se ter liberdade de expressão, ou de não se ter que gostar de alguma coisa, não se ter que ser politicamente correto, não se ter obrigação de conformidade ao gosto da maioria. Liberdade de expressão para demandar que se tenha liberdade de expressão? Ora, diga logo o que quer e não me aborreça. Então, em vez de gerar conteúdo, gastam linhas e parágrafos com um problema que não existe. Como, aliás, acabei fazendo aqui também.
Finalmente, vocês não acham sintomático que haja tanta gente resmungando? Isto aqui é uma espécie assim de divã. Tanta gente se achando dona da razão, e o belogue é uma forma de expor argumentos sem ter que agüentar contraditas: ninguém vem aqui dizer que estou errado, eu, que sou o autor do texto e senhor de tudo quanto aqui se registra. Recentemente vi um comentário, no jornal de um sujeito que estava lendo sentado a meu lado no veículo (era um jornal paulista com certeza, mas não sei se o Estadão), de que os belogueiros são uma multidão de exibicionisas, expondo sua privacidade em busca dos tais quinze minutos de Andy Warhol. Não deixo de lhe dar um tanto de razão, realmente vimos aqui e apresentamos um tanto de nossos pensamentos e de nosso cotidiano, mas não creio que essa seja a principal motivação dos comentaristas que critico acima. A meu ver, o que (n)os impele é a catarse, a possibilidade de berrar aos quatro ventos e ninguém nos interromper ou censurar. Mas falta autocrítica a essa gente, sempre se julgando correta em tudo.
No ouvido: abertura da trilha sonora de Jornada nas Estrelas VI, de Cliff Eidelman. No cérebro: The Carter Family, de Carly Simon.
Aí é que começam meus problemas de percepção. De acordo com a minha, os belogueiros que visito são sempre pessoas mais inteligentes, mais politizadas, mais cultas, mais viajadas, mais atualizadas com jornais, revistas, notícias, Internet, tecnologia, polêmicas da Biologia e escândalos políticos, mais antenadas com a Grande Rede e mais familiarizadas com as novas formas de conectividade do que eu. Resmungam sempre, conhecem o mundo, estão sempre manifestando sua insatisfação com a ignorância e a burrice alheias naquilo que lhes limitam a liberdade, estão sempre identificando bem as causas desses fenômenos, estão sempre lendo algum livro interessante, ouvindo boa música (em geral baixada), acompanhando os seriados da moda, de resto conseguindo fugir de tudo quanto é emburrecimento de massa... O et coetera é longo.
De meu lado, pouco viajo, pouco leio, pouco me exponho, pouco me atualizo, só fico estudando e lendo revistas em quadrinhos. Emocionalmente, isso tende a tornar-me complexado. Intelectualmente, sei que não devo por todas as razões de diversidade. De todo modo, surge uma dúvida: se somos tantos e todos tão inteligentes, se conseguimos tão bem pôr o dedo no que está errado no mundo, como pode a sociedade continuar tão errada?
Esses belogueiros têm gasto boa parte de seus textos em política, e não só por causa das eleições; já o faziam antes. Denunciam as trapalhadas e as faltas de lógica e de consistência dos políticos, em geral aqueles da anteriormente denominada esquerda. Com uma incômoda arrogância, manifestam a obviedade de como são muito mais preparados os políticos da anteriormente denominada direita. Discursam com enorme autoridade sobre como é muito mais indicado o caminho do máximo liberalismo econômico e político e como é infinitamente burro e autoritário qualquer dirigismo estatal (no que estão certos em parte e, infelizmente, a esquerda socializante brasileira não ajuda a mostrá-los errados, com a tendência stalinista que costuma demonstrar). Manifestam um ódio incontrolado contra toda forma de organização governamental.
Não posso dizer que estejam errados. Alimentam o debate político, que é fundamental para uma democracia; quanto mais dele, melhor. Os gregos consideravam que o comparecimento à ágora para discussão fosse um dever cívico. Precisamos de resmungões que se queixem do governo e da oposição diuturnamente, precisamos da fiscalização do eleitor.
Só que, mais uma vez, meu problema é com minha falta de certezas. Não tenho as convicções vigorosas que esses belogueiros não hesitam em defender. Penso, voto, mas não quero fazer da política minha vida, nem creio que qualquer posição política esteja correta ou que algum político realmente tenha desejo de seguir a linha ostensiva de seu partido. Acredito, isto sim, que "a vida esteja em outro lugar", que independe dos ocupantes de cargos. Da mesma forma, a empolgação que manifestam sobre a tecnologia da informação, as facilidades que advogam de se fazer tudo à distância, não deixam de me indicar que esteja havendo um excesso de dependência voluntária sobre a máquina.
Além disso, essas pessoas estão sempre se queixando do quanto os imbecis procuram limitar sua liberdade de expressão. É verdade, os imbecis estão sempre fazendo isso. Porém, parece-me que se tenha chegado a um metadiscurso permanente: vezes demais, o objeto do texto é justamente o grito de se ter liberdade de expressão, ou de não se ter que gostar de alguma coisa, não se ter que ser politicamente correto, não se ter obrigação de conformidade ao gosto da maioria. Liberdade de expressão para demandar que se tenha liberdade de expressão? Ora, diga logo o que quer e não me aborreça. Então, em vez de gerar conteúdo, gastam linhas e parágrafos com um problema que não existe. Como, aliás, acabei fazendo aqui também.
Finalmente, vocês não acham sintomático que haja tanta gente resmungando? Isto aqui é uma espécie assim de divã. Tanta gente se achando dona da razão, e o belogue é uma forma de expor argumentos sem ter que agüentar contraditas: ninguém vem aqui dizer que estou errado, eu, que sou o autor do texto e senhor de tudo quanto aqui se registra. Recentemente vi um comentário, no jornal de um sujeito que estava lendo sentado a meu lado no veículo (era um jornal paulista com certeza, mas não sei se o Estadão), de que os belogueiros são uma multidão de exibicionisas, expondo sua privacidade em busca dos tais quinze minutos de Andy Warhol. Não deixo de lhe dar um tanto de razão, realmente vimos aqui e apresentamos um tanto de nossos pensamentos e de nosso cotidiano, mas não creio que essa seja a principal motivação dos comentaristas que critico acima. A meu ver, o que (n)os impele é a catarse, a possibilidade de berrar aos quatro ventos e ninguém nos interromper ou censurar. Mas falta autocrítica a essa gente, sempre se julgando correta em tudo.
No ouvido: abertura da trilha sonora de Jornada nas Estrelas VI, de Cliff Eidelman. No cérebro: The Carter Family, de Carly Simon.
Especialistas, dez por um reau
Aí o avião da Gol desapareceu, depois foi achado na selva e, agora, a caixa-preta.
Uma coisa que me impressionou desde o sumiço, e que acontece toda vez em que há uma tragédia dessas (explosão da Challenger, desabamento do WTC), é a multiplicação dos especialistas. Vai todo o mundo para a televisão, expondo as causas possíveis da queda. Sùbitamente, todos são especialistas em segurança de vôo. Em todos os bares, em todos os encontros sociais, no táxi e na barbearia, todos são instantâneos e profundos conhecedores da mecânica das aeronaves, dos procedimentos do controle de vôo, dos radares, rotas, comunicações, do quanto os aviões são novos, bem equipados, suscetíveis, de quem errou etc.
Eu não sei. Não trabalho nem perto da aviação, não tenho qualquer instrução formal na área, mas venho lendo sobre o tema regularmente há cerca de 28 anos. Comecei a formar uma vaga idéia do tamanho de minha ignorância no assunto. Não chega a ser mostra de humildade, mas de temor (outros chamariam de prudência), uma relutância em atribuir causas e culpas à queda do Boeing. Então, socràticamente me calo.
Mas fico impressionado com a autoridade com que elaboram alguns jornalistas sobre, p.ex., o "tiqués" -- foi assim que a moça da Grobo se referiu ao TCAS (Traffic Collision Avoidance System). Pessoas que *nunca* haviam sido apresentadas a certos dispositivos começam a afirmar certeza sobre seu funcionamento. É o tipo de gente que se impõe pela firmeza do discurso, mas, à *primeira* pergunta que você fizer, vão tirar o corpo fora, "ah, isso eu não sei". Quer dizer, não sabem nada, nunca souberam! É tudo aparência! Em síntese: "Foi o TCAS, com certeza." "Mas o que é TCAS?" "Ah, isso eu não sei." Sim, muita certeza eles têm.
Quando ouvi a notícia, pela primeira vez, de que dois aviões se haviam chocado, duas expressões vieram à minha mente: RVSM e TCAS. Sobre a primeira, fiquei pensando no quanto têm razão aqueles críticos da afobação capitalista com que se tem tratado o tráfego aéreo. Sobre a segunda, veio-me a mesma noção fundamental que vale para tudo que é criado pelo homem: as máquinas são tão boas quanto seus operadores. Não adianta querer confiar aos mecanismos aquilo que, fundamentalmente, são decisões humanas. Basta que o botão esteja na posição off que toda a sua tecnologia se torna inútil.
Uma coisa que me impressionou desde o sumiço, e que acontece toda vez em que há uma tragédia dessas (explosão da Challenger, desabamento do WTC), é a multiplicação dos especialistas. Vai todo o mundo para a televisão, expondo as causas possíveis da queda. Sùbitamente, todos são especialistas em segurança de vôo. Em todos os bares, em todos os encontros sociais, no táxi e na barbearia, todos são instantâneos e profundos conhecedores da mecânica das aeronaves, dos procedimentos do controle de vôo, dos radares, rotas, comunicações, do quanto os aviões são novos, bem equipados, suscetíveis, de quem errou etc.
Eu não sei. Não trabalho nem perto da aviação, não tenho qualquer instrução formal na área, mas venho lendo sobre o tema regularmente há cerca de 28 anos. Comecei a formar uma vaga idéia do tamanho de minha ignorância no assunto. Não chega a ser mostra de humildade, mas de temor (outros chamariam de prudência), uma relutância em atribuir causas e culpas à queda do Boeing. Então, socràticamente me calo.
Mas fico impressionado com a autoridade com que elaboram alguns jornalistas sobre, p.ex., o "tiqués" -- foi assim que a moça da Grobo se referiu ao TCAS (Traffic Collision Avoidance System). Pessoas que *nunca* haviam sido apresentadas a certos dispositivos começam a afirmar certeza sobre seu funcionamento. É o tipo de gente que se impõe pela firmeza do discurso, mas, à *primeira* pergunta que você fizer, vão tirar o corpo fora, "ah, isso eu não sei". Quer dizer, não sabem nada, nunca souberam! É tudo aparência! Em síntese: "Foi o TCAS, com certeza." "Mas o que é TCAS?" "Ah, isso eu não sei." Sim, muita certeza eles têm.
Quando ouvi a notícia, pela primeira vez, de que dois aviões se haviam chocado, duas expressões vieram à minha mente: RVSM e TCAS. Sobre a primeira, fiquei pensando no quanto têm razão aqueles críticos da afobação capitalista com que se tem tratado o tráfego aéreo. Sobre a segunda, veio-me a mesma noção fundamental que vale para tudo que é criado pelo homem: as máquinas são tão boas quanto seus operadores. Não adianta querer confiar aos mecanismos aquilo que, fundamentalmente, são decisões humanas. Basta que o botão esteja na posição off que toda a sua tecnologia se torna inútil.
Evento trekker, Jornada VI, megafone
1. Evento trekker
Chegou-me às mãos esta filipeta.
"Trek Rio // 1a. edição // Exibição de fan-films // Stands // Bate-papo com dubladores // Sorteios de brindes trekkers // Dia 8 de outubro - 10:00 às 16:00 // R$ 3,00 + 1 kg de alimento não perecível OPCIONAL // Espírito das Artes - COBAL Humaitá // Rua Voluntários da Pátria, 446"
No Rio de Janeiro, bem entendido. Esse "8 de outubro" é este próximo domingo! Não sei se vou, mas taí anunciado procês.
2. Jornada nas Estrelas VI
O canal Universal reprisou nesse domingo, 01/10, e só então assisti.
Na cena do jantar, Gorkon diz que você não consegue apreciar Shakespeare até conhecer o original Klingon. Infelizmente, a versão dublada pela VTI dizia "até conhecer A TRADUÇÃO EM KLINGON". Isso destruiu o texto original!
Conheço a pessoa que fez essa tradução. Ela teve um cuidado especial com essa frase, que é cheia de significado. Portanto, não foi ela que errou. Tenho para mim o que considero já óbvio: que alguém, no estúdio de dublagem, entendeu que ela tivesse errado -- e estragou tudo! "If it aint broken, dont fix it!"
Mas a VTI está de parabéns na escolha das vozes. A do Kirk é feita não sei por quem, mas soa parecido com o excelente (porém falecido) Marcos Miranda, o melhor dublador do Kirk no cinema. A do Spock é feita pelo mesmo cara que começou a terceira temporada, que melhorou bastante desde então. Finalmente, a voz do Chang é feita pelo grande Márcio "Picard" Simões, na minha opinião o melhor do filme e um dos melhores que a VTI tem.
3. Megafone
Na semana passada, eu estava passando de ônibus pela praça Saenz Peña quando vi uma mulher na calçada, megafone na mão, Código Civil azul da editora RT na outra, recitando a Constituição. Não consegui ouvi-la, mas, pela página em que estava, devia ser o artigo 5o.
Bom. Antes a Constituição do que outra coisa. E digo mais: ainda bem que alguém está fazendo isso. Quer dizer, não é a melhor maneira, mas, entre fazê-lo e não fazê-lo, pelo menos se está maximizando o acesso das pessoas ao texto.
Chegou-me às mãos esta filipeta.
"Trek Rio // 1a. edição // Exibição de fan-films // Stands // Bate-papo com dubladores // Sorteios de brindes trekkers // Dia 8 de outubro - 10:00 às 16:00 // R$ 3,00 + 1 kg de alimento não perecível OPCIONAL // Espírito das Artes - COBAL Humaitá // Rua Voluntários da Pátria, 446"
No Rio de Janeiro, bem entendido. Esse "8 de outubro" é este próximo domingo! Não sei se vou, mas taí anunciado procês.
2. Jornada nas Estrelas VI
O canal Universal reprisou nesse domingo, 01/10, e só então assisti.
Na cena do jantar, Gorkon diz que você não consegue apreciar Shakespeare até conhecer o original Klingon. Infelizmente, a versão dublada pela VTI dizia "até conhecer A TRADUÇÃO EM KLINGON". Isso destruiu o texto original!
Conheço a pessoa que fez essa tradução. Ela teve um cuidado especial com essa frase, que é cheia de significado. Portanto, não foi ela que errou. Tenho para mim o que considero já óbvio: que alguém, no estúdio de dublagem, entendeu que ela tivesse errado -- e estragou tudo! "If it aint broken, dont fix it!"
Mas a VTI está de parabéns na escolha das vozes. A do Kirk é feita não sei por quem, mas soa parecido com o excelente (porém falecido) Marcos Miranda, o melhor dublador do Kirk no cinema. A do Spock é feita pelo mesmo cara que começou a terceira temporada, que melhorou bastante desde então. Finalmente, a voz do Chang é feita pelo grande Márcio "Picard" Simões, na minha opinião o melhor do filme e um dos melhores que a VTI tem.
3. Megafone
Na semana passada, eu estava passando de ônibus pela praça Saenz Peña quando vi uma mulher na calçada, megafone na mão, Código Civil azul da editora RT na outra, recitando a Constituição. Não consegui ouvi-la, mas, pela página em que estava, devia ser o artigo 5o.
Bom. Antes a Constituição do que outra coisa. E digo mais: ainda bem que alguém está fazendo isso. Quer dizer, não é a melhor maneira, mas, entre fazê-lo e não fazê-lo, pelo menos se está maximizando o acesso das pessoas ao texto.
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