23 abril 2009

ME MUDEI

Antes que alguém me corrija para o certo ("mudei-me"), advirto-os de que, agora, meu belogue também mora no Wordpress. Portanto, atualize seus bookmarks ("Favoritos"): agora, a Caixa de Sabão do Sr Atoz fica em

http://sratoz.wordpress.com/

Não vou mais atualizar o belogue neste endereço aqui. Também não vou apagá-lo, para o caso de algo dar errado no Wordpress, mas, agora, se quiser me ler, é lá. Tudo foi preservado, melhor do que quando me mudei de apartamento: os textos anteriores, os comentários, acho que até as figuras.

Obrigado pela atenção.

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Food fight

Atenção a este vídeo!

http://www.youtube.com/watch?v=e-yldqNkGfo

Parece só um vídeo engraçadinho de comida brigando, mas NÃO É. É a explicação das guerras em que os Estados Unidos se meteram no mundo, representada pela comida dos países. A Inglaterra é o fish and chips, a Alemanha é o Pretzel com Bratwurst, a Rússia é o strogonoff, o Japão é o sushi, os árabes são o kebab.

Começa na Segunda Guerra Mundial, passa pela Coréia, Cuba, Vietnã, primeira Guerra do Golfo, 11 de Setembro e segunda Guerra do Golfo. Prestei muita atenção e reparei que as várias sutilezas estão representadas: a II Guerra Mundial começa com os judeus se mandando da Alemanha e os restantes sendo exterminados; a Alemanha passa por cima da França pra bombardear a Inglaterra; os americanos, com os ingleses vindo atrás, passam por cima da França pra bombardear a Alemanha. Etc.

Rússia e China ocupam meia Coréia "por dentro" enquanto, do outro lado, outra meia Coréia se junta aos americanos e ficam todos indo e voltando e se acabando em cima de uma fronteira que se desloca mas não se afasta. Depois, Rússia ocupa Cuba e assusta os Estados Unidos, Rússia penetra no Vietnã e põe a França pra correr, os americanos vêm ocupar o lugar da França ao lado do Vietnã do Sul e americanos e Vietnã se acabam sem vitória.

Enquanto isso, no Oriente Médio, os ingleses se mandam e deixam os judeus encararem os árabes sozinhos. Os árabes se juntam, Israel vem em defesa dos judeus, reduz mas não elimina os árabes.

Guerra Fria, nuclear stockpiling etc.

Os árabes (Kuwait), sentados em cima do óleo, são enxotados por outros árabes (Iraque) e fogem para pedir ajuda dos americanos. Americanos vêm, Iraque dispara vários Scuds em Israel, todos caem em Israel sem causar danos. Aí vem o 11 de Setembro.

Tem aqui um linque que explica qual comida é o quê:

http://www.touristpictures.com/foodfight/cheat.htm

Ficou perfeito.

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Em um tópico relacionado, iniciei meu belogue Seventy Years Ago Today, narrando a II Guerra Mundial com tempo na escala 1:1. Para que nunca mais se repita. Faço-o experimentalmente: presumo não ter tempo de atualizá-lo com a frequência que gostaria. Faço-o também para ver qualé a do Wordpress. Com alguns minutos, estou gostando tanto que penso em dar um pé na bunda do Blogger. Só por causa da preguiça, provavelmente não o farei.

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18 abril 2009

Intreináveis

Minha dona diz que eles são intreináveis. Não conheço melhor expressão.

Você vai ao comércio, o cara não consegue te vender uma bala Juquinha. Pergunta se tem o produto, está debaixo da fuça do infeliz, ele diz que não tem. Pergunta quanto é, ele diz que não sabe.

Minha colega foi à Saraiva da rua do Ouvidor, perguntou pelo Dicionário filosófico de Voltaire -- com essas palavras -- e o idiota lhe perguntou quem era o Autor. Ela repetiu, Voltaire, e o retardado escreveu "Wolter", como se fosse um Walter que ele conhecesse.

Numa LIVRARIA! Ela não foi procurar o Dicionário no meio de um prédio em construção, nem nas termas, nem na cozinha.

E o pior é que não adianta a Saraiva demitir para contratar quem saiba ler. Ninguém sabe. É impossível contratar mão-de-obra qualificada neste País tropical, abençoado por Deus, onde em fevereiro tem Carnaval. É impossível treiná-los, eles não são capazes de aprender nada de nada de nada.

Amigo meu, médico, teve que explicar pro assentador de granito como é que se assentava granito, porque o mentecapto quebrou três pias sucessivas até aprender a cortar a pedra. Meu prezado doutor (a dois títulos) perdeu a paciência com o apedeuta, disse que um profissional consegue se sustentar com o que faz e que, òbviamente, o estrupício (não sei escrever a palavra) não podia se considerar um profissional. Observo que, para esse doutor -- que dá aula de Medicina em universidade pública, concursado e o escambau --, dizia, para esse doutor perder a paciência, precisa muito, não basta ser um caminhão de asneiras, tem que ser um trem de carga com cocô até em cima mesmo. Quando ele sofreu uma fratura cominutiva do ombro (osso quebrado em quatro partes), com uma dor que o fazia ver os sete anjos com as sete pragas (ele que é ateu), ainda assim manteve a compostura e falou civilizadamente com a pseudo-auxiliar de enfermagem que veio injetar-lhe o medicamento receitado para outro paciente enquanto ele continuava esperando o analgésico. Mas o fingidor de pedreiro conseguiu tirá-lo do sério.

No trabalho, vou usar a casinha e descubro que tem barata. Raios me partam! Tem um faxineiro que, sempre que entro no banheiro, está lá olhando pro teto e se ocupando só das próprias unhas, enquanto baratas tentam me engolir vivo. Aposto qualquer quantia, aposto meus diplomas -- pode vir aqui em casa rasgar todos se eu estiver errado -- que eu limpo banheiro melhor do que qualquer um desses descerebrados que estão, supostamente, GANHANDO SALÁRIO PRA FAZER ISSO há uma vida inteira.

NEM DISTRIBUIR PANFLETO NA RUA O CARA SABE: fica de costas para o sentido de onde vêm as pessoas, elas saindo do Metrô no início do horário comercial, ele não vendo ninguém se aproximar nem, portanto, conseguindo estender a mão a quem já foi embora. Quer dizer, nem esse ofício infernal de espalhador de filipetas, que devia ser dinamitado da face do planeta, nem essa pseudoprofissão inútil serve para absorver o excedente de mão-de-obra desqualificada, porque o sub-gump nem isso consegue fazer.

Minha proprietária sugeriu: homem-porta-cartazes, talvez?

NEM ISSO. O aborto ambulante vai arrumar um jeito de se enfiar no canto de menor visibilidade da praça.

Eu entendo que o cara não queira produzir mais: o salário é o mesmo se ele vender e se não vender, o patrão é mau, a mais-valia é cruel etc. etc. Mas o que eles são clìnicamente incapazes de enxergar é que a alternativa é a demissão! O nanicocéfalo não percebe que, se não trabalhar, vai para o olho da rua -- e continua não trabalhando!

Aí eu começo a entender aquilo que tanto escuto no Metrô: as histórias tristes de quem toma a demissão como uma inevitabilidade, uma decorrência natural do fato de estarem empregados, que é só uma questão de quando, não de se. Para eles é normal, não se emendam mesmo!

Quando eu varria chão no Exército, o chão ficava limpo. Não se via um grão de poeira. Eu não fazia mais do que minha obrigação, nem era especializado na tarefa. Hoje, eu vejo uma faxineira fingir que esvazia uma lixeira, derrubar a sujeira toda no chão, e ouço dela que isso acontece toda hora. WTF??? A mulher pretende GANHAR A VIDA fazendo isso? Precisa ter mestrado pra aprender a esvaziar lixeira, a varrer chão? Eu varro aqui em casa e fica tudo limpo; supunha que uma profissional especializada soubesse fazer ao menos isso.

Uma colega (a mesma do Wolter) observou que é porque eu presto atenção, porque me dedico a tudo que faço. Se é para fazer, é para fazer bem feito, seja um prato de comida, um parecer jurídico ou um banheiro limpo. É para tentar fazer cada vez melhor, fazer em menos tempo com a mesma qualidade, fazer com mais qualidade no mesmo tempo. Mas, para eles, parece que não. Andam pela vida com o 32-A607 ligado (escreva num papel e olhe no espelho). Não aprendem NEM QUEREM APRENDER. Por isso é impossível ensinar-lhes qualquer coisa.

E estão sempre reclamando que estão doentes, com dor aqui e ali, e que "ontem passaram mal", e vão pegar atestado, ou não vão.

Então, quer saber? Não tenho pena não. Um amigo me dizia que não tinha essa suposta "pena de botar um pai de família na rua", porque havia OUTRO pai de família faminto e qualificado que não conseguia a vaga porque um mequetrefe desses a estava ocupando. Eu vou além: é preciso ser isonômico. Se são todos igualmente indolentes e preguiçosos, então a fila tem que andar, é preciso cada um ceder a vez: brinca um pouquinho, depois dá o lugar pro outro. Não pode é um só querer ganhar sem trabalhar o tempo todo.

***
Da série Mais motivos para me deixar orgulhoso e assustado

Em um assunto distinto, porém relacionado, acabei de entender algumas das várias limitações que há anos venho percebendo nas pessoas. Acabei de entender por que é que tanta gente à minha volta lê tããããão devagar, palavra por palavra, causando-nos uma perda enorme de tempo e de produtividade. Taqui a explicação. Ou: "p*rra, por que esse cara está gastando um tempo enorme para ler esse pedaço que òbviamente não é o que interessa na discussão?"

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Andei lendo:
Superman #7 (julho de 1987), "Rampage", publicada em Superman: the Man of Steel v. 4.
http://tirinhasfi.blogspot.com/ -- Fi - Futuro Incerto, de Felipe Acosta;
http://lidetemeraria.blogspot.com/, de Ana;
http://calmaqueficapior.blogspot.com/, da Srta. T;
http://www.interney.net/blogs/imprensamarrom/, do Gravatai Merengue;
http://revistaerrata.blogspot.com/, dos Doutores Albieri, Banner, Gori, Jekyll e Jivago (PQP, tou velho. Entendi todas as piadas embaixo das apresentações dos doutores. Isso inclui o Doutor Gori).

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16 abril 2009

Incertezas vespertinas

Para minha desgraça em uma vida tão atribulada pela falta de tempo quando há tanto que fazer ou que quero fazer, agora entrei em mais um blog reading spree. Sabe como é: quando você começa a ler um, que linca pra outro, que linca pra outro, e você vai lendo tudo, opiniões, pontos de vista sendo compartilhados racionalmente, emocionalmente. Fico cheio de inveja que esse pessoal escreva tão bem. E tenha tempo. Ou pareça ter. E entro em fluxo de consciência e, como já disse outras vezes, quem escreve bem tem o dom de fazer você querer escrever tão bem. E muito, para aprender com a prática e ficar igual a eles. Ao lado dos belogues que referencio aqui no lado direito da tela, existem dezenas, dezenas que visito de vez em quando ou uma vez e nunca mais, mas cujos URLs anoto. Acho que vou passar a mencioná-los aqui.

Como esta entrada do Cocadaboa: que me fez vir aqui.

Sou ateu.

Agora que choquei, confesso: isso não é plenamente verdade. Não sei se Deus existe. A cada dia, mais me convenço de que não existe. Fui criado em escolas católicas, induzido a crer na existência, bondade, sabedoria e amor ilimitados de Deus, mas não sei não. Prefiro dizer: a eventual existência de Deus é irrelevante.

De um lado, impossível provar que existe. Deus se descobre é pela fé. A prova é racional, a fé não é. Se você chegasse a Deus pela razão, estaria tornando a fé desnecessária, o que contraria Deus. (Eu sei que não; isso foi uma falácia. Mas é apenas incidental; prossigamos.)

Por outro lado, impossível provar que não existe. Então, os ateus também estão agindo de acordo com uma fé. E fé é o que não tenho.

Deus, se existir, é inatingível: se Ela quiser se esconder, conseguirá isso melhor do que ninguém (a onipotência faz parte do conceito). Então, inútil me preocupar em descobri-La ou me convencer a favor ou contra.

Deus, se existir, é amoral. Não pune pecados nem premia boas ações. "Ah, então tá liberado! Então, Ela encoraja o mal, é isso?" Não, não é isso. Se fosse assim, Deus seria Imoral. Mas um Deus imoral premiaria pecados e puniria boas ações. Não creio que Ela faça isso. Creio que, se existir, não esteja nem aí. Fez o mundo e foi tirar férias, foi fazer outros mundos, está ocupada com as galáxias ou tentando resolver o problema da expansão cósmica, que levará ao esfriamento dos buracos negros, ao esgarçamento do espaço e à extinção da vida. Não está nem aí para o que nos acontece, não ouve orações, não concede audiência, não manda catástrofes nem salva aquele sujeito que ficou doze horas esmagado embaixo do caminhão e saiu sem ferimentos. Imagine como se sente o Dr. Manhattan (este ponto é mais contundente para quem leu o quadrinho).

Se Deus é amoral, que diferença faz eu puxar Seu saco? Que Lhe importa se eu repetir palavras mágicas enquanto seguro um colar de contas? O que Ela ganha com isso?

A alternativa seria um Deus maligno: se eu não repetir trinta pais-nossos, ou comer carne na sexta-feira, ou chutar a imagem da santa, vou para o inferno sem sursis. Para isso não acontecer, puxo-Lhe o saco. Mas sempre me identifiquei com a causa dos que vivem sob um regime tirano. Minha tendência é à rebeldia contra quem me tira minha God-given liberdade. Inclusive contra Ela: e eu e Ela saberíamos que seriam só aparências, e eu diria, não faço mais, me mande pro Inferno se quiser, aliás Você vai me mandar pro Inferno se quiser mesmo apesar de toda a minha puxação de saco, porque é onipotente e não responde perante ninguém, não tem que dar satisfações a algum tribunal olímpico ou valhállico, então vou exercer minha liberdade no pouco de vida que me resta. Prefiro ser sincero. E, no Inferno, lá estaria eu, com um punho cerrado e elevado em sinal de protesto, dizendo, Você sabe que eu estou aqui porque estou certo, eu ganhei de você: pode me quebrar, mas não pode me dobrar.

Mas Deus, se existir, não é maligna. Isso não faz parte do pacote. Então, em Sua infinita misericórdia, também não me mandaria pro Inferno nem que eu fosse mau. Então, pra quer esquentar a cabeça? Preocupemo-nos com esta vida, com quem sente fome e não sabe ler.

Se Deus existir, é onipotente (faz parte do pacote). Então, pode alterar as leis da Física a qualquer momento, inclusive retroativamente, reescrevendo a História, e nem saberíamos que o universo está mudado. Pode me fazer crer nEla de uma hora para outra, e eu nem saberia que um dia não teria crido (está certo esse particípio?). Então, inútil rezar, inútil resistir, inútil tentar puxar Seu celestial saco. Vai fazer o que quiser fazer, e não há nada com que eu consiga convencê-La do contrário. Nem há nada que eu possa fazer por Ela tal que ela retribuísse me fazendo algum favor: onipotentes não costumam precisar de qualquer ajuda. Para que acender velas e jejuar, então? Só para satisfazer Seu incomensurável ego? Deus tem problema de auto-estima, precisa que Lhe digamos quanto Ela é linda e maravilhosa?

Se Deus existir, é indecifrável, certo? Então, não adianta pensar sobre Ela, tentar entendê-La, filosofar sobre Ela -- só se for para ser uma filosofia de nós mesmos, mas aí é sobre nós, não sobre Ela. Da mesma forma, inútil perscrutar quais são Seus indecifráveis planos para mim.

Isso se Deus existisse. Não creio que exista, então não tenho o que pensar dEla. De todo modo, irrelevante.

Mas e Jesus Cristo: existiu? Sua existência não é impossível, mas também a tenho considerado cada vez mais improvável. Se tiver existido, coitado, terá sido um sujeito brilhante, que teria tentado ensinar civilidade às pessoas, uma espécie de live-and-let-live hippie, só que alguns milênios off the mark. Òbviamente, foi devidamente punido por isso.

Mas então, e se eu decidir viver pelo Evangelho, isso faz de mim um cristão? Eu, que sou ateu? Adoro a parábola dos trabalhadores que passam o dia na vinha pelo mesmo salário (que, para mim, se traduz em "cuide da sua vida em vez de ficar com inveja de seu vizinho"), bem como a do irmão que vai trabalhar após ter dito que não ia, enquanto o outro não foi, mesmo tendo dito que ia. Adoro a história de se atirar a primeira pedra, e tudo mais. Se eu concordar com as regras de boa vizinhança que estão ali, isso faz de mim um cristão? The horror, the horror. Espero que não, mas talvez seja tarde demais.

Então, de um lado tenho vergonha de não admitir que sou ateu: pelo certo, eu deveria admitir logo, como sugere o Cris Dias. De outro, nem sequer disso tenho certeza!

Recém-lidos:
Justice League #1 (maio de 1987), "Born Again", publicada em Coleção DC 70 anos no. 5 (setembro de 2008); Detective Comics #574 (maio de 1987), "...My Beginning... and My Probable End", publicada em Coleção DC 70 anos no. 6 (outubro de 2008);

http://yourinnergoddess.blogspot.com/ -- Goddess Bless America, sobre a erosão dos direitos individuais numa América tornada insalubre pela direita religiosa;

http://diariodeumdoentedosnervos.blogspot.com/ (de meu ex-discípulo André. Como bom padawan, superou o mestre. Estou orgulhoso e o acrescentei aqui à direita);

http://infinitadiversidade.blogspot.com/ (da Cláudia Freitas, uma das pessoas que me recebeu tão amàvelmente no JETCOM em fevereiro de 1994, que Deus a tenha em Sua infinita ironia);

http://marjorierodrigues.wordpress.com/ (sugerido pelo Alex Castro);

http://www.horsepigcow.com/ (não sei nem quem é, mas me amarrei em seu cenário jornalístico-belogueiro-literário e lhe desejo todo o sucesso, além de ela ser uma gata);

http://johneaves.wordpress.com/ (de John Eaves, criador da esguia Enterprise-E);

http://drexfiles.wordpress.com/ (Drex Files, de Doug Drexler, CGI artist em Deep Space Nine);

http://www.warbirdregistry.org/ (que compila os aviões restaurados pelo mundo -- desejo-lhes sorte);

http://www.umsabadoqualquer.com/ (Um Sábado Qualquer, genial);

http://www.malvados.com.br/ (Malvados -- outra boa tira online);

http://verbeat.org/blogs/manualdominotauro/ (Manual do Minotauro -- o belogue das GENIAIS tirinhas do Laerte, que, se Deus não existe, pelo menos ele é a coisa mais próxima que um cartunista alcança);

http://substantivolatil.com/ (da Mirian Bottan, musa do Cardoso).

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15 abril 2009

Alguém me explique a lei 11.922, art 20

É assim. Anteontem, saiu a lei 11.922, que tem 19 artigos tratando de créditos da Caixa Econômica Federal, financiamento imobiliário, fundo habitacional e sonho da casa própria. Beleza.

Aí, o artigo 20 estende o prazo para registrar ou entregar arma de fogo à Polícia Federal dentro do Estatuto do Desarmamento.

O artigo 21 trata da vigência da lei. Aí acaba o texto dela.

Peraí, volta. Que que diz o artigo 20?

Fui investigar. Tudo começou com a medida provisória 445 de 2008, cujos dois artigos tratavam de créditos da CEF com negócios imobiliários. Aí, a MP tramitou na Câmara dos Deputados, onde recebeu 18 emendas (detalhes aqui), todas pertinentes ao assunto. Todas exceto duas.

A emenda 16 autorizaria a DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes) a fazer obras com determinados recursos que não os tratados pela MP. Naturalmente, estava fugindo do assunto, e o Deputado Duarte Nogueira se insurgiu contra sua aceitação. Foi indeferido. Recorreu e perdeu. Detalhes aqui. A emenda entrou na então-MP 445, futura-lei 11.922.

A outra emenda era a de número 10, do Deputado Sandro Mabel. Ele considerou oportuno estender o prazo relativo às armas (e, pelas razões que ele expôs, concordo com ele) e, out of the blue sky, pediu para enfiar lá um artigo relativo a isso nessa MP-mas-em-breve-lei. Mais detalhes aqui.

E ficou assim! Olhei todos os pareceres escritos e falados na Câmara, inclusive das comissões, e ninguém falou nada! Passou totalmente embaixo do radar!

Eu estava entendendo que, pela boa técnica legislativa, não se podia usar lei de um assunto para tratar de outro. Em matéria de lei orçamentária (que não é o caso), isso é até proibido.

Vou ver se alguém no Senado reparou nisso. Mas não ponho muita fé.

PREMONIÇÃO

Depois da notícia das chicotadas no trem, vi esta, do Laerte:

http://verbeat.org/blogs/manualdominotauro/2009/04/dragea-033.html

Detalhe: é da VÉSPERA.

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14 abril 2009

Pulling bags

Então, o Yahoo! publicou u'a matéria sobre a tendência que as pessoas podem ter ao puxa-saquismo em tempos de crise. Confesso que a li.

Mas vejam só este trecho:

"A [Consultora Fulana] diz que não é preciso envergonhar-se desse tipo de comportamento. O conselho dela para tempos de dificuldade econômica é: vá para o trabalho mais cedo, fique até mais tarde, assista às reuniões e ofereça-se como voluntário para fazer trabalho extra."

Ué. No meu dicionário, chegar cedo, sair tarde e fazer trabalho extra chama-se TRABALHAR. Ela parece entender que isso seja puxar o saco.

Agora quem trabalha está puxando saco? Isso tem toda a cara da ética que impera neste País desde Martim Afonso. Você não pode trabalhar mais que os molóides, não pode (eventualmente) se destacar; você tem que ser medíocre. Têm que estar todos, em ordem unida, abaixo da média.*

Suponho, então, que quem puxa saco esteja trabalhando. Quer dizer, não posso trabalhar mais que outros, porque dirão que estou puxando saco. Que é só pra aparecer, apesar da produção medida e da receita maior para a empresa.

*Bonus points para quem percebeu que, por definição, é impossível estarem todos abaixo da média. Agora vá explicar isso pro Tenente [name withheld for privacy], meu instrutor no segundo ano do NPOR/IME, que queria todos os alunos acima da média.

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13 abril 2009

Pérolas matinais de segunda-feira

Algumas pessoas acham que isto é arte genial e espontânea: o "Grande Artista" encher a cara e sair pela madrugada aporrinhando os outros, gritando barbaridades e mostrando a bunda. Acham que isso é ser grande, é desbravar fronteiras, é demonstrar aonde podemos chegar se sonharmos alto.

Eu acho que é babaquice.

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Lei cínica número 47: se alguém disser a você que você está bem na fita e que a batata de outrem está assando, pode ter certeza de que é o contrário.

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Eu venho no metrô sendo tratado pior do que gado, sendo lembrado de minha condição proletária massificada nos subterrâneos de Metropolis, e ainda querem que eu fique de bom humor?

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12 abril 2009

Anotações -- Isaac Asimov

Prossigo no intento de ler o núcleo da obra de Isaac Asimov: o pequeno conjunto de livros que o tornou célebre e que despertou o interesse de tanta gente na ficção científica. São menos de trinta livros, dos quais li os dois primeiros (Foundation e I, Robot) e estou no terceiro (Foundation and Empire). Creio que, agora, faltem vinte livros.

Diz-se que os dois primeiros concentram o que de melhor ele escreveu. Talvez ele tenha mesmo criado um choque em comparação com Autores anteriores, não sei. Talvez ele tenha trazido um pouco de humanidade a um campo que, de outro modo, é tido por árido. Talvez ele tenha sido o primeiro, ou um dos primeiros, a deixar as tecnicalidades de lado para se concentrar na trama. Pode ser. Por certo, o ponto rico do que ele escreve é um certo conteúdo de mistério, convidando o leitor a decifrar o que vai acontecer. Há, ainda, uma outra constante que identifiquei na obra e que indica muito da personalidade do escritor, que é uma confiança na Ciência e no racionalismo.

Os livros são mesmo bons, mas permitam-me dizer que Asimov é um tanto overrated. Em I, Robot, todos os personagens humanos, exceto a protagonista Susan Calvin, têm o pavio bem curto, estão sempre perdendo a paciência sem motivo, gritando, exasperando-se, de um modo irritante e sem explicação. Tenho duas hipóteses de trabalho para isso. A primeira é que o Autor, à época ainda pouco experiente, estivesse tentando criar personagens realistas, ele que era tão cerebral, e tenha errado na mão. Na tentativa de imitar as demais pessoas, teria acabado por fazer personagens excessivamente emocionais.

A segunda hipótese é que fosse um contraste intencional entre os defeituosos humanos, imprevisíveis e sempre à beira de um ataque de nervos, e os robôs, sempre equilibrados e racionais. Essa hipótese parece-me a melhor das duas, especialmente porque a Dra. Calvin aparece como um modelo de nerd respeitada -- mais ou menos uma versão feminina e mais monótona do próprio Asimov -- e difìcilmente perde a compostura. Porém, saiba que, com isso, o Autor acaba sendo repetitivo e inverossímil.

Além do mais, contrariando o caráter nerd do próprio Asimov, encontrei mais de um erro nos livros. Há momentos em que ele troca nomes, o que causa uma certa estranheza para quem vem lendo a história. É curioso que o editor original não tenha percebido isso, lá nos anos 40. Agora, passados mais de sessenta anos, naturalmente é tarde demais para uma correção, ainda mais que o Autor está morto.

Voltando à história da Fundação em si mesma: um dos atributos dos bons livros é estimularem você a procurar suas referências. Neste caso, Asimov já comentou que sua grande inspiração foi o Declínio e queda do Império Romano, onde Edward Gibbon demonstrou fatores sociais e econômicos como explicação para a evolução do império. Isso aparece na Fundação, cujo maior efeito sobre mim, até agora, é a vontade de ler o livro de Gibbon -- todos os seis volumes.

Recém-lidos:
Justice League of America #244 (novembro de 1985);
2009-03-21 — I, Robot, de Isaac Asimov; Bantam, ISBN 0-553-29438-5;
2009-03-23 — O que muda com o novo Acordo Ortográfico, de Evanildo Bechara; 1a. edição, 2a. impressão, dezembro de 2008, Nova Fronteira: Lucerna, ISBN 978-85-209-2138-8 (cheio de erros de português -- e olha que o Autor é imortal, membro da Academia de Ciências de Lisboa, gramático ilustre, autoridade na língua e o escambau);
Justice League of America #245 (dezembro de 1985);
Superman #416 (fevereiro de 1986), "The Einstein Connection", publicada em Superman 70 anos no. 3 (dezembro de 2008);
Man of Steel #1 (1986), "From Out the Green Dawn...", publicada em Coleção DC 70 anos no. 1 (maio de 2008);
Man of Steel #4 (novembro de 1986), "Enemy Mine...", publicada em Superman 70 anos no. 3;
Superman #2 (fevereiro de 1987), "The Secret Revealed", publicada em Superman 70 anos no. 1 (setembro de 2008);
2009-04-11 -- History of the DC Universe, de Marv Wolfman e George Pérez, ISBN 1-56389-798-9;
Detective Comics #572 (março de 1987), "Dick Sprang Remembers", publicada em Coleção DC 70 anos no. 6 (outubro de 2008).

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06 abril 2009

E ainda querem que eu pague para pagar?

Estava voltando do almoço e vi a manchete do jornal na banca: "veja aqui onde fazer declaração do imposto de renda de graça".

Pensei: ué, em casa. Você vai à delegacia da Receita, pega o formulário, preenche e entrega. Tudo de graça. Ou, se tiver Internet em casa, baixa o programa, preenche e manda pela própria Internet, também de graça.

Eu, hein.

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