Ontem, a caminho do trabalho no ônibus, ouvi e depois vi um helicóptero Bell "Huey" atravessar baixinho a rua Haddock Lobo (do Rio de Janeiro, não de São Paulo). O ruído era aquela característica batedeira de duas pás. Imediatamente pensei, que faz um helicóptero da FAB por aqui e tão baixo? E lembrei-me de como a FAB está desatualizada, com helicópteros obsoletos e monomotores dos anos 60, quando meio mundo já usa o Black Hawk, este mesmo também já não considerado novo.
A visão e, principalmente, o sonido me remeteram à guerra do Vietnã, chamada de "a guerra do helicóptero" no documentário Choppers, do Discovery Channel. Lembrei-me de todos aqueles filmes, Platoon, Full Metal Jacket, documentários, a indissociável imagem dos Hueys com um fundo de floresta. E fiquei pensando, puxa, aquela guerra foi séria mesmo, etc.
Qual não foi minha não-surpresa quando, vendo as manchetes dos jornais hoje, descobri que realmente era um Huey, mas não o mesmo que estávamos acostumados a ver. A Polícia Civil agora ostenta orgulhosamente sua nova aquisição: um Huey II -- novo modelo que a Bell criou há uns anos quando descobriu que muita gente tinha Hueys fiéis dos quais não queria se desfazer ao mesmo tempo em que queria modernizar a frota sem gastar dinheiro. São Hueys recondicionados, com células zeradas e reforçadas, transmissão e rotores trocados e nova aviônica. São helicópteros militares, mas não são helicópteros de combate. Já faz alguns anos que leio sobre seu lançamento na AIR International. E agora descubro que a Polícia os está usando para sua "guerra ao crime" (as if). Os jornais já apelidaram este assim-chamado Águia 3 de Caveirão do Ar, enquanto pelo menos um jornal acusa a Polícia de usar uma "carcaça do Vietnã".
Tècnicamente, o jornal está certo, mas demonstra uma certa falta de conhecimento sobre quanto se pode aproveitar uma aeronave ainda em boas condições. O material é sim obsoleto, mas não precisamos de helicópteros raiteque para combater molambos com fuzis. Isto aqui não são os campos de batalha da Europa Ocidental, onde se lutaria a abertura da III Guerra Mundial. Mais uma vez, ataco a premissa: é fácil criticar que a escolha de helicóptero está mal feita; antes, devia ver-se é se é caso de usar helicópteros com fuzis como "arma contra o crime". Assalta-me o pensamento de que tudo isso é uma futilidade, um desperdício de dinheiro público. A "guerra ao crime" é toda ela uma farsa. Aqueles que não são cínicos são iludidos que não percebem que, mais uma vez, a guerra está em outro lugar.
***
Às vezes fico refletindo sobre as ambigüidades da língua (aproveite o trema enquanto ele ainda existe). E "desconstruo" frases, constato a dependência de palavras sobre palavras e de palavras sobre contexto. Cada vez, observo que nada tem significado próprio. Que, devidamente dissecadas, as frases são todas vazias, que é o ouvinte ou leitor que as preenche. Mais concluo: que nunca estamos dizendo nada. Ninguém nunca diz nada. Então, melhor nem tentar dizer nada, que a comunicação é impossível. Todos recolhidos a seus silêncios, e sigo calado. Aproximo-me do texto de Cosmologia de Lawrence Krauss na Scientific American, onde ele demonstrava que, para viver mais, a solução seria não interagir. Toda ação só aumenta a entropia, o que é uma obviedade e, dita, também aumenta a entropia.
***
Recém-lida: Green Lantern #6 (junho de 1961).
EOF
29 novembro 2008
27 novembro 2008
Não seja prolixo
"Eu, SENHOR ATOZ, identidade 31415926-5, declaro, para os devidos fins, que fui prolixo na data de hoje, 27 de novembro de 2008."
ou
"Fui prolixo em 27/11/2008." -- (Ass) Sr Atoz
EOF
ou
"Fui prolixo em 27/11/2008." -- (Ass) Sr Atoz
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Diálogo que acabei de ter com o Porcão
Esta foi de matar. Menos de uma hora atrás, liguei para o restaurante Porcão, no Rio de Janeiro.
-- Central de Reservas, boa tarde.
-- Boa tarde. Meu nome é João Paulo e eu quero fazer uma reserva.
-- Pois não, com quem eu falo?
E há quem tenha fé na humanidade. Alguns fé demais, outros fé de menos.
***
Já não lembro quem me disse isto, mas concordo plenamente: se alguém lhe disser (sem estar brincando) que, "na prática, a teoria é outra", é que não estudou a teoria.
Recém-lida: Green Lantern # 5, abril de 1961.
EOF
24 novembro 2008
Resenha: Nineteen Eighty-Four
No ar, minha resenha de Nineteen Eighty-Four, de George Orwell.
Recém-lidos:
Foundation, de Isaac Asimov;
The Hobbit, de J.R.R. Tolkien;
Superman #1 (junho de 1939), trecho;
Detective Comics #33 (novembro de 1939), primeira história, trecho;
Look (fevereiro de 1940), trecho;
Batman #5 (primavera de 1941), terceira história;
Sensation Comics #1 (janeiro de 1942), primeira história;
Superman #30 (setembro de 1944), quarta história;
Flash Comics #86 (agosto de 1947), primeira história;
Wonder Woman #28 (março de 1948), primeira história;
Flash Comics #104 (fevereiro de 1949), segunda história;
Superman #65 (julho de 1950), terceira história;
Batman #62 (dezembro de 1950), primeira história;
Wonder Woman #99 (julho de 1958), segunda história;
Wonder Woman #108 (agosto de 1959), primeira história;
Showcase #22 (outubro de 1959);
Superman #132 (outubro de 1959);
Showcase #23 (dezembro de 1959);
Showcase #24 (fevereiro de 1960);
Green Lantern #1 (agosto de 1960);
Green Lantern #2 (outubro de 1960);
Superman #141 (novembro de 1960);
Green Lantern #3 (dezembro de 1960);
Green Lantern #4 (fevereiro de 1961).
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Recém-lidos:
Foundation, de Isaac Asimov;
The Hobbit, de J.R.R. Tolkien;
Superman #1 (junho de 1939), trecho;
Detective Comics #33 (novembro de 1939), primeira história, trecho;
Look (fevereiro de 1940), trecho;
Batman #5 (primavera de 1941), terceira história;
Sensation Comics #1 (janeiro de 1942), primeira história;
Superman #30 (setembro de 1944), quarta história;
Flash Comics #86 (agosto de 1947), primeira história;
Wonder Woman #28 (março de 1948), primeira história;
Flash Comics #104 (fevereiro de 1949), segunda história;
Superman #65 (julho de 1950), terceira história;
Batman #62 (dezembro de 1950), primeira história;
Wonder Woman #99 (julho de 1958), segunda história;
Wonder Woman #108 (agosto de 1959), primeira história;
Showcase #22 (outubro de 1959);
Superman #132 (outubro de 1959);
Showcase #23 (dezembro de 1959);
Showcase #24 (fevereiro de 1960);
Green Lantern #1 (agosto de 1960);
Green Lantern #2 (outubro de 1960);
Superman #141 (novembro de 1960);
Green Lantern #3 (dezembro de 1960);
Green Lantern #4 (fevereiro de 1961).
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23 novembro 2008
Queda de avião em Pernambuco
O bimotor que caiu em Pernambuco hoje à tarde (notícia com mais detalhes neste jornal do Piauí do que em qualquer outro lugar até agora) era um Beech 200 Super King Air. Isso dá para descobrir bastando ver a matrícula do avião (terminada em OSR) nas fotos do pós-desastre e, depois, clicando aqui.
Impressionante como nenhum jornalista descobriu isso sozinho até agora.
Impressionante como nenhum jornalista descobriu isso sozinho até agora.
21 novembro 2008
Retorno a Krypton
Conforme é do seu conhecimento, estou lendo quadrinhos antigos da DC. Duas edições que li há pouco são Superman #132 (outubro de 1959) e #141 (novembro de 1960), republicadas em Superman 70 anos #1: as grandes aventuras do Superman (setembro de 2008).
Eu julgava que, durante a Era de Prata (1956-aprox. 1970), não houvesse muitas histórias ambientadas em Krypton. Descobri que provavelmente estava enganado. Superman #132 apresenta a vida alternativa que Kal-El teria tido se aquele planeta não houvesse explodido; e, em Superman #141, uma viagem no tempo leva o Super-homem a viver nos últimos dias de seu mundo natal.
Eu julgava que, durante a Era de Prata (1956-aprox. 1970), não houvesse muitas histórias ambientadas em Krypton. Descobri que provavelmente estava enganado. Superman #132 apresenta a vida alternativa que Kal-El teria tido se aquele planeta não houvesse explodido; e, em Superman #141, uma viagem no tempo leva o Super-homem a viver nos últimos dias de seu mundo natal.
Quando John Byrne restabeleceu o Super-homem em 1986 e em particular nas minisséries Man of Steel e The World of Krypton, ele representou Krypton de uma forma bastante inovadora, que é a oficial desde então: um planeta árido, com grandes extensões inóspitas entre cidades feitas de torres de vidro. A tecnologia supria todas as necessidades dos habitantes, que podiam dedicar-se à Filosofia, Artes e Ciências como naquele ideal grego reproduzido no episódio “The Cloud Minders”, de Jornada nas Estrelas. Ao mesmo tempo, esses habitantes haviam se tornado pessoas tão estéreis quanto seu planeta. Seguindo o mesmo padrão dos vulcanos, os kryptonianos foram retratados como racionalistas reclusos organizados em clãs, restringindo ao mínimo o contato entre si e a nada o contato com a Natureza, e mantendo costumes anacrônicos com uma devoção religiosa.
Eu já sabia que essa representação diferia bastante de tudo que viera antes, mas não imaginava seu radicalismo. Nas edições de 1959 e 1960, Krypton é uma repetição da idéia, que então se fazia, do que viria a ser a América do futuro. Tal como em tantas histórias de ficção científica barata do período, o planeta de Kal-El era uma versão futurista da pujante e deslumbrada sociedade americana do pós-guerra, onde os recursos pareciam ilimitados e o progresso, destinado a continuar melhorando a vida e sustentando a estrutura social vigente. Tudo continuaria sendo feito como era, apenas com mais conforto.
Assim, a família kryptoniana era constituída pelo Pai, que ia trabalhar de manhã e voltava à noite com sua pastinha; pela Mãe, dirigindo o trabalho dos robôs domésticos; e pelos 2.3 filhos, freqüentadores da escola e acompanhados de seu cãozinho. Os homens e crianças vestiam aqueles trajes típicos de quadrinhos futuristas da época, com peças monocromáticas de cores berrantes: p.ex. camisa amarela, calça vermelha, mangas verdes e um triângulo azul no peito; e sempre aquele arco em volta de cada ombro. E botas, claro. As mulheres usavam sempre penteados, vestidos caros e brincos discretos, todos conforme a moda dos anos 50.
Exceto por algumas curvas bizarras, os edifícios e suas funções eram iguais aos das cidades da Terra. As atividades econômicas eram aquelas de maior prestígio ao tempo do Presidente Eisenhower: tudo que envolvesse a Engenharia, motor do progresso continuado. A escola baseava-se no mesmo paternalismo que conhecemos, com turmas de obedientes escoteiros repetindo as técnicas expostas em quadros-de-giz por seus doutrinadores, sem pensamento crítico. Jor-El era cientista em uma base de mísseis (e eu pergunto por que Krypton teria uma base de mísseis, já que as guerras estavam abolidas e a tecnologia espacial era incipiente).
Quando o Super-homem chegou a Krypton em Superman #141, deparou-se com uma filmagem de ficção científica local, onde o diretor, as câmeras e a técnica eram idênticos aos estereótipos de Hollywood. As poucas diferenças em relação ao mundo do leitor eram apenas as mesmas extrapolações tecnológicas de sempre: carros voadores, comida em pílulas, materiais inquebráveis; e alguns exotismos alienígenas, como vulcões jorrando ouro e animais que comiam metal. O trabalho da dona-de-casa era diminuído por uma cozinha onde bastaria apertar um botão e a comida viria pronta da parede — mas não de graça.
De certo modo, esse cenário ingênuo era inevitável. Na sociedade americana do início dos anos 60, a DC não teria conseguido vender quadrinhos que não tranqüilizassem o jovem leitor espelhando o mesmo referencial que ele tinha à sua volta. Não poderia estimular a imaginação para fora do ideal positivista necessário a se construir uma América dominadora onde se valorizava o conhecimento técnico. Além disso, quadrinhos eram considerados uma leitura exclusivamente infantil, que não poderia provocar questionamentos sobre a sociedade que retratavam, sob pena de trazer sobre si os aldeões com suas tochas e forcados. Ideològicamente, as histórias de super-heróis tinham que inserir-se no processo pedagógico validando a estrutura social desde cedo ao demonstrar seu triunfo em um mundo seguro onde todos seriam felizes e super-heróis benfeitores poderiam voar.
***
Ao ler histórias de super-heróis dos anos 50 e 60, minha primeira reação foi de tédio. Por tanto tempo eu as quisera ler, idealizando-as por não conhecê-las, mas, finalmente me deparando com elas, a ilusão desfez-se em desapontamento. Apesar disso, comecei a analisar sua estrutura e descobri um discurso subjacente à ação e ao suspense: os vilões eram pessoas maliciosas com planos de subverter a ordem, ora cometendo crimes patrimoniais, ora dominando uma população, ora espionando segredos militares. Os heróis atuavam no sentido de proteger essa ordem, interrompendo atos criminosos e entregando os malfeitores às autoridades. Em nenhum momento essas autoridades eram questionadas, nem os superpoderes eram empregados de forma a desrespeitá-las.
Portanto, não é de espantar que o público tenha sido sacudido de seu entorpecimento quando, em 1970, Dennis O’Neil lançou uma seqüência de histórias onde o Lanterna e o Arqueiro Verde percorriam os Estados Unidos revelando injustiças que aquela nação preferia não enxergar. Racismo, miséria, poluição, superpopulação, drogas e pedofilia, tudo isso foi apontado em meia dúzia de edições da revista Green Lantern que, até hoje, são lembradas como clássicas. Ali se discutia como, ao manter a Ordem, o Lanterna Verde contrariava a Justiça, em um debate que a Filosofia do Direito propõe desde Aristóteles, ou mesmo antes.
Para a maioria dos comentadores na Web, o fim dos anos 60 marca o começo da Era de Bronze dos quadrinhos, que, para a minoria (eu incluído), melhor deveria ser chamada de segunda metade da Era de Prata. O momento já era outro: a sociedade americana tinha sido confrontada com sua segregação racial, tinha visto os assassinatos de Kennedy e Martin Luther King e pedia o fim do massacre de seus filhos no Vietnã; as feministas queimavam sutiãs; e a fumaça de Woodstock desafiava o sistema. Os quadrinhos, sempre fruto de sua época, tornavam-se mais um canal de questionamento, incorporando um realismo agressivo que se maximizaria no cinzento final dos anos 80.
Eu já sabia que essa representação diferia bastante de tudo que viera antes, mas não imaginava seu radicalismo. Nas edições de 1959 e 1960, Krypton é uma repetição da idéia, que então se fazia, do que viria a ser a América do futuro. Tal como em tantas histórias de ficção científica barata do período, o planeta de Kal-El era uma versão futurista da pujante e deslumbrada sociedade americana do pós-guerra, onde os recursos pareciam ilimitados e o progresso, destinado a continuar melhorando a vida e sustentando a estrutura social vigente. Tudo continuaria sendo feito como era, apenas com mais conforto.
Assim, a família kryptoniana era constituída pelo Pai, que ia trabalhar de manhã e voltava à noite com sua pastinha; pela Mãe, dirigindo o trabalho dos robôs domésticos; e pelos 2.3 filhos, freqüentadores da escola e acompanhados de seu cãozinho. Os homens e crianças vestiam aqueles trajes típicos de quadrinhos futuristas da época, com peças monocromáticas de cores berrantes: p.ex. camisa amarela, calça vermelha, mangas verdes e um triângulo azul no peito; e sempre aquele arco em volta de cada ombro. E botas, claro. As mulheres usavam sempre penteados, vestidos caros e brincos discretos, todos conforme a moda dos anos 50.
Exceto por algumas curvas bizarras, os edifícios e suas funções eram iguais aos das cidades da Terra. As atividades econômicas eram aquelas de maior prestígio ao tempo do Presidente Eisenhower: tudo que envolvesse a Engenharia, motor do progresso continuado. A escola baseava-se no mesmo paternalismo que conhecemos, com turmas de obedientes escoteiros repetindo as técnicas expostas em quadros-de-giz por seus doutrinadores, sem pensamento crítico. Jor-El era cientista em uma base de mísseis (e eu pergunto por que Krypton teria uma base de mísseis, já que as guerras estavam abolidas e a tecnologia espacial era incipiente).
Quando o Super-homem chegou a Krypton em Superman #141, deparou-se com uma filmagem de ficção científica local, onde o diretor, as câmeras e a técnica eram idênticos aos estereótipos de Hollywood. As poucas diferenças em relação ao mundo do leitor eram apenas as mesmas extrapolações tecnológicas de sempre: carros voadores, comida em pílulas, materiais inquebráveis; e alguns exotismos alienígenas, como vulcões jorrando ouro e animais que comiam metal. O trabalho da dona-de-casa era diminuído por uma cozinha onde bastaria apertar um botão e a comida viria pronta da parede — mas não de graça.
De certo modo, esse cenário ingênuo era inevitável. Na sociedade americana do início dos anos 60, a DC não teria conseguido vender quadrinhos que não tranqüilizassem o jovem leitor espelhando o mesmo referencial que ele tinha à sua volta. Não poderia estimular a imaginação para fora do ideal positivista necessário a se construir uma América dominadora onde se valorizava o conhecimento técnico. Além disso, quadrinhos eram considerados uma leitura exclusivamente infantil, que não poderia provocar questionamentos sobre a sociedade que retratavam, sob pena de trazer sobre si os aldeões com suas tochas e forcados. Ideològicamente, as histórias de super-heróis tinham que inserir-se no processo pedagógico validando a estrutura social desde cedo ao demonstrar seu triunfo em um mundo seguro onde todos seriam felizes e super-heróis benfeitores poderiam voar.
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Ao ler histórias de super-heróis dos anos 50 e 60, minha primeira reação foi de tédio. Por tanto tempo eu as quisera ler, idealizando-as por não conhecê-las, mas, finalmente me deparando com elas, a ilusão desfez-se em desapontamento. Apesar disso, comecei a analisar sua estrutura e descobri um discurso subjacente à ação e ao suspense: os vilões eram pessoas maliciosas com planos de subverter a ordem, ora cometendo crimes patrimoniais, ora dominando uma população, ora espionando segredos militares. Os heróis atuavam no sentido de proteger essa ordem, interrompendo atos criminosos e entregando os malfeitores às autoridades. Em nenhum momento essas autoridades eram questionadas, nem os superpoderes eram empregados de forma a desrespeitá-las.
Portanto, não é de espantar que o público tenha sido sacudido de seu entorpecimento quando, em 1970, Dennis O’Neil lançou uma seqüência de histórias onde o Lanterna e o Arqueiro Verde percorriam os Estados Unidos revelando injustiças que aquela nação preferia não enxergar. Racismo, miséria, poluição, superpopulação, drogas e pedofilia, tudo isso foi apontado em meia dúzia de edições da revista Green Lantern que, até hoje, são lembradas como clássicas. Ali se discutia como, ao manter a Ordem, o Lanterna Verde contrariava a Justiça, em um debate que a Filosofia do Direito propõe desde Aristóteles, ou mesmo antes.
Para a maioria dos comentadores na Web, o fim dos anos 60 marca o começo da Era de Bronze dos quadrinhos, que, para a minoria (eu incluído), melhor deveria ser chamada de segunda metade da Era de Prata. O momento já era outro: a sociedade americana tinha sido confrontada com sua segregação racial, tinha visto os assassinatos de Kennedy e Martin Luther King e pedia o fim do massacre de seus filhos no Vietnã; as feministas queimavam sutiãs; e a fumaça de Woodstock desafiava o sistema. Os quadrinhos, sempre fruto de sua época, tornavam-se mais um canal de questionamento, incorporando um realismo agressivo que se maximizaria no cinzento final dos anos 80.
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E a você sugiro este vídeo, que demonstra do que a criatividade ainda é capaz na Web. Por favor, não redimensione a tela! É um filme bobinho, mas deixou-me intrigado: como é que fizeram? Acho que foi com um pouquinho só de programação em Java (ou algum script similar). Considerando que o vídeo deve rodar em plataformas Linux e Mac tanto quanto em Windows, imagino que nem passe pelas DLLs.
19 novembro 2008
Pergunta 1: glicose e frutose
A Bárbara Axt propôs que fizéssemos [pelo menos] uma pergunta por dia. A minha de hoje é a seguinte: se glicose e frutose são isômeros, por que uma é reputada menos calórica do que a outra? Pergunta derivada (que, portanto, não conta): por que diabético pode comer frutose mas não pode comer glicose?
***
Recebi um panfleto de uma academia de ginástica. Falava em estimulação russa, mas não dizia o que era isso. Então, estou autorizado a imaginar:
- Estimulação russa é vodka?
- Estimulação russa é uma técnica de interrogatório inventada pela KGB, envolvendo porões e choques elétricos?
***
Recebi um panfleto de uma academia de ginástica. Falava em estimulação russa, mas não dizia o que era isso. Então, estou autorizado a imaginar:
- Estimulação russa é vodka?
- Estimulação russa é uma técnica de interrogatório inventada pela KGB, envolvendo porões e choques elétricos?
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Apidêite do apedeuta
Acabo de verificar (onde mais?) que a frutose não é menos calórica.
03 novembro 2008
Estou por conta
Prometo a você unilateralmente: nunca vou usar a expressão "por conta" com o significado de "por causa". Já estou farto: agora, todo o mundo só quer dizer "por conta"; ninguém mais diz "por causa". "Por conta das minhas férias, passo a tarefa para você", "... o trânsito ficou lento por conta da chuva".
Chega. Não eu. Esteja tranqüilo: não vou cobrar de você. Mas comprometo-me, de hoje ao fim dos tempos, a nunca perpetuar essa prática que já vitimou famílias, trouxe fome, guerra e peste, aqueceu o planeta e causou choro e ranger de dentes.
Chega. Não eu. Esteja tranqüilo: não vou cobrar de você. Mas comprometo-me, de hoje ao fim dos tempos, a nunca perpetuar essa prática que já vitimou famílias, trouxe fome, guerra e peste, aqueceu o planeta e causou choro e ranger de dentes.
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