14 abril 2008

Uma coisa que me irrita e outra que me diverte

Irrita-me a expressão "e nem". São duas conjunções aditivas juntas e, por isso, a expressão está errada. "Não pode sentar na grama, cuspir no chão e nem jogar papel na rua." Está errado.

Por favor, nunca escreva "e nem". "Não pode sentar na grama, cuspir no chão nem jogar papel na rua", por piedade.

Minha última conta de luz traz a lista dos sorteados na promoção do débito automático. É assim: você inscreve sua conta no débito automático e entra na promoção. Se for sorteado, ganha uma televisão de plasma de 42 polegadas! Legal, não?

Muito. Pense comigo: deve haver um bom motivo para a companhia de luz sortear cinco televisões de plasma por mês em troca de sua inscrição no débito automático. Alguma coisa muito importante está acontecendo a ponto de a companhia me acenar com tamanha isca. E tudo que preciso fazer para ganhar uma televisão de plasma é permitir que, todo mês, tirem da minha conta bancária o valor do pagamento da luz, sem me dar a opção de discordar dele: vou pagar, querendo ou não. Se houver algum erro, não é mais possível exigir uma fatura corrigida; primeiro pago, depois discuto.

É o seguinte: se fosse bom pra mim, eles não estavam me oferecendo cinco televisões de plasma por mês, é ou não? Se o débito automático fosse bom para mim, eles estariam é escondendo, não estimulando; eu ia ter que pagar pra fazer. Então, quanto mais eles querem me subornar com o sorteio -- aliás, não é nem com o sorteio: é só com a perspectiva dele, porque não tenho qualquer garantia. É uma promessa vazia --, quanto mais querem me seduzir com o sorteio, mais me convenço de que é uma roubada. Então, estou fora; podem sortear televisões de plasma à vontade, podem sortear coleções completas de Asimov e Clarke e todos os DVDs de Futurama, que só vão me convencer a fugir disso.

Ninharias em troca de minha escravidão eterna. Deparamo-nos com essa escolha todos os dias. Não, obrigado; prefiro eu mesmo trabalhar para comprar a tal televisão. No final, é mesmo a única forma de adquiri-la; todas as outras são ilusão.

Recém-lida: Swamp Thing #84, de Rick Veitch e Tom Mandrake (março de 1989).

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