Eu olho para fora do veículo na estrada e vejo aqueles enormes cartazes (no Brasil são chamados de outdoors, o que é uma obviedade; lá são billboards). Se estiverem em inglês, eu até entendo as palavras, mas, qualquer que seja a língua, não entendo os cartazes. Nem em português, quando viajo para qualquer outro Estado do Brasil.
O primeiro choque é que não sei do que estão falando. Anunciam empresas das quais nunca ouvi falar, produtos que não conheço, nem sei com que facilidade estão presentes no mercado local. Não sei o quanto deveria ser óbvio eu conhecê-las quando estou ali. Não fazem parte da minha vida, não tenho um referencial nem qualquer familiaridade; não há aquele conforto do reencontro com as coisas conhecidas. Faltam-me parâmetros para orientação e avaliação do que estou lendo. São cartazes vazios de significado para mim e meramente fazem poluição visual na paisagem.
O segundo choque é que não importa o que estão falando. É sempre a mesma baboseira, com as mesmas frases prontas e genéricas: "a vida na sua mão", "com você em todos os momentos", "pensando sempre em você", "você pode esperar mais". Então, na verdade eu sei, sim, o que está escrito, porque nunca é diferente disso.
O terceiro choque é ver como fui capaz de decifrar o código. É ver como é trágico que não haja tanta identidade cultural nos lugares aonde vou. É ver como, em qualquer lugar do mundo, os anúncios são iguais, porque o capitalismo é absolutamente homogêneo, as empresas se comportam da mesma forma, os padrões e sistemas são os mesmos. Com a Nova Ordem Mundial e a globalização, o mundo ficou mais pasteurizado.
Olhem esta fotografia, por exemplo.
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Às vezes me incomoda visitar o país dos outros e encontrar as mesmas coisas que vejo em casa.
Recém-lidas:
Swamp Thing #75 (agosto de 1988);
Swamp Thing #76 (setembro de 1988);
Swamp Thing #79 (dezembro de 1988).
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