04 abril 2008

Andando sobre esteiras

Quando estive em viagem no Exterior, tive uma impressão marcante que agora divido com você. É uma impressão que também me vem quando vejo fotografias desses lugares e anúncios em revistas, na Web e na televisão, mas ao vivo é bem mais forte.

Eu olho para fora do veículo na estrada e vejo aqueles enormes cartazes (no Brasil são chamados de outdoors, o que é uma obviedade; lá são billboards). Se estiverem em inglês, eu até entendo as palavras, mas, qualquer que seja a língua, não entendo os cartazes. Nem em português, quando viajo para qualquer outro Estado do Brasil.

O primeiro choque é que não sei do que estão falando. Anunciam empresas das quais nunca ouvi falar, produtos que não conheço, nem sei com que facilidade estão presentes no mercado local. Não sei o quanto deveria ser óbvio eu conhecê-las quando estou ali. Não fazem parte da minha vida, não tenho um referencial nem qualquer familiaridade; não há aquele conforto do reencontro com as coisas conhecidas. Faltam-me parâmetros para orientação e avaliação do que estou lendo. São cartazes vazios de significado para mim e meramente fazem poluição visual na paisagem.

O segundo choque é que não importa o que estão falando. É sempre a mesma baboseira, com as mesmas frases prontas e genéricas: "a vida na sua mão", "com você em todos os momentos", "pensando sempre em você", "você pode esperar mais". Então, na verdade eu sei, sim, o que está escrito, porque nunca é diferente disso.

O terceiro choque é ver como fui capaz de decifrar o código. É ver como é trágico que não haja tanta identidade cultural nos lugares aonde vou. É ver como, em qualquer lugar do mundo, os anúncios são iguais, porque o capitalismo é absolutamente homogêneo, as empresas se comportam da mesma forma, os padrões e sistemas são os mesmos. Com a Nova Ordem Mundial e a globalização, o mundo ficou mais pasteurizado.

Olhem esta fotografia, por exemplo. Isso poderia ser o que eu estivesse vendo de dentro de um ônibus, é a típica foto que eu poderia tirar em viagem. Na verdade, baixei-a do saite de um banco holandês chamado ING e não entendo o que está escrito no cartaz. Mas preciso? O banco poderia ser qualquer banco no mundo, o aeroporto poderia ser qualquer aeroporto do mundo (provavelmente é Schiphol, mas isso não faz diferença). Os anúncios são todos iguais, os cartazes são os mesmos da estrada do Galeão. Provavelmente está escrito algo como "o ING quer falar com você".

Às vezes me incomoda visitar o país dos outros e encontrar as mesmas coisas que vejo em casa.

Recém-lidas:
Swamp Thing #75 (agosto de 1988);
Swamp Thing #76 (setembro de 1988);
Swamp Thing #79 (dezembro de 1988).

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