16 dezembro 2008

Resmungo sortido de Natal (1): o trem do Inferno

Qualquer um que ande de metrô no Rio de Janeiro sabe o suplício que é. Um aperto desgraçado, você não consegue entrar no vagão. Outro dia, quando cheguei ao Estácio e aquele mundo de gente saiu por um lado, pelo outro entrou uma moça que quase caiu pra trás com -- palavras dela -- o cheiro de suor que havia ficado no ambiente. Verdade. Até eu, que estivera imerso ali, estava sentindo.

Outro detalhe curioso é a quantidade de retardados que reclama que “o ar está desligado” (ou o equivalente: “está só na ventilação”). É incrível. O vagão foi projetado para levar, sei lá, oitenta pessoas, mas está levando, digamos, duzentas. O imbecil realmente espera que fique geladinho do mesmo jeito. Não percebe que, se ele ainda não morreu sufocado, é que o ar está ligado. Não percebe um ventinho que percorre sua cabeça, mais frio do que a sauna à sua volta. No cérebro de ervilha do hipoplausibilóide, ele está sentindo calor, portanto o ar está desligado. Dá vontade de ligar uma bomba de vácuo na boca do desgraçado e perguntar se o ar já foi ligado ou se está só na ventilação.

Enquanto isso, em cada uma das estações, vários cartazes mostram modelos sorridentes sob slogans do gênero “Metrô Rio. A vida é melhor aqui”, mais conforto, mais feliz, orgânico e sustentável. Estou convencido de que esses cartazes têm a única serventia de debochar do cliente.

Pois, não bastasse tudo isso, na estação Saenz Peña, nesse último sábado, um barulho infernal veio somar-se à tortura apavorante. Uma TV de LCD e umas caixas de som faziam propaganda da Sky exibindo um videoclip de soul music, enquanto um par de cadeiras de plástico supostamente servia como ponto de vendas, aliás desocupado. O som estava altíssimo, tomava todo o ambiente, deslocava meus pensamentos, martelava pessoas e mobília.

Será possível que a Sky realmente acredite que, torturando meus ouvidos, vá me convencer a comprar algum pacote? Se alguém me faz mal, não vou querer negociar com aquela pessoa; vou querer é distância dela. Mas fui advertido por quem estava comigo: os imbecis só se sentem confortáveis quando há barulho alto. Então, para a maioria dos imbecis (e para a infeliz que, depois eu vi, chegou para ocupar aquele posto), o barulho é agradável.

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