25 janeiro 2008

Ases na Carioca

É engraçado como, às vezes, seu passado volta inesperadamente.

Quando eu estava na escola, freqüentava a biblioteca intensamente. Li vários livros emprestados, outros lá mesmo. Um dos primeiros que li foi o que mais me marcou e o de que mais gostei: Ases da guerra aérea, de Edward Sims, publicado pela editora Record no final dos anos 60. São doze narrativas de combates aéreos vividos por pilotos de caça na II Guerra Mundial. As descrições são envolventes e detalhadas, as narrações são feitas com os verbos no presente, e todo o estilo do Autor leva o leitor a se sentir pràticamente dentro dos cockpits. Toda a percepção dos pilotos, seu raciocínio e suas emoções, tudo isso é transmitido de modo a fazer com que o leitor sinta que é ele que está vivendo tudo aquilo. Foi um dos livros que mais me absorveram até hoje, e devorei-o em poucos dias.

Vários anos depois, atentei para algo que me fugira: o tradutor de Ases da guerra aérea foi Ronaldo Sérgio de Biasi, que é pesquisador de Ciência dos Materiais e foi (ou ainda é, não sei) decano do Instituto Militar de Engenharia e editor da versão brasileira da Isaac Asimov Magazine no início dos anos 90. De Biasi também traduziu inúmeras obras de Asimov para a Record e é um grande conhecedor daquele profícuo Autor de ficção científica.

Agora há pouco, eu voltava do almoço pelo caminho que liga a avenida Rio Branco à estação de metrô da Carioca quando parei em uma das várias bancas de livros usados que ficam naquela calçada. Qual não foi minha surpresa quando me vi diante de American Aces, de Edward Sims, publicado originalmente em 1958. Nesta edição mais recente, de bolso, da Ballantine, a capa mostra um P-38 em primeiro plano e, indefectivelmente, um avião japonês em chamas ao fundo.

Peguei para folhear as páginas amarelas, que já se soltavam da lombada onde a cola estava seca pelo tempo. Lá estavam exatamente os doze capítulos de que me lembrava, começando com um piloto de P-40 sobre a China, passando pela emboscada sobre a Nova Guiné com o P-38 da capa e terminando com um P-51 a contribuir para a derrocada da Luftwaffe. As figuras originais também estavam presentes, esquematizando as evoluções dos protagonistas no ar de forma a facilitar o entendimento do leitor.

Por alguns momentos, fui transportado de volta àquele final dos anos 80, à cabine de comando daquelas aeronaves e à contínua viração de páginas que me trouxe excelentes horas de lazer quase vinte anos atrás. É curioso como você não esquece certas coisas dos livros que lê.

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